domingo, 1 de fevereiro de 2009

- O método crítico da economia política pqueno-burguesa 01Fev09

Comentário à nota “Bela Solução” de César Benjamin

editado e publicado em 01Fev09

Imediatamente[1] o texto de Benjamim[2] traz à memória um livro de Paul Singer, "Curso de Introdução Economia Política", que reunia uma série de conferências proferidas por ele no Teatro de Arena ou Teatro Oficina em 1968 em São Paulo, na época da ditadura militar[3]. Ele se propunha a expor temas tais como emprego, produtividade, desemprego, desenvolvimento, crises e etc, abordando-os sistematicamente segundo três correntes do pensamento econômico: a neoclássica, a keynesiana e a marxista. Este livro tornou-se um best seller nos anos 70 e 80 para as esquerdas em geral, primeiro pela sua abordagem sintética e integranda do conjunto de temas que formavam grande parte das preocupações das esquerdas e, segundo, pelo proverbial didatismo de Paul Singer.

Depois irá lançar um outro livro com o título parecido, mas já com concepção e estrutura mais próximas de um manual introdutório convencional - absolutamente descartável.
Mas Singer não poderá deixar de ser o que ele é politicamente e teoricamente. O texto é interessantíssimo porque expressa um caminho, uma abordagem POLITICAMENTE ENGAJADA E DETERMINADA: a do marxismo vulgar, a do socialismo pequeno-burguês, a da crítica reformista.

Nada a tirar nem acrescentar à breve nota de Cesar Benjamim em relação ao texto de Singer. Na verdade, menos do que uma vinculação teórica a Paul Singer, na nota trata-se de mais uma expressão de um método que é próprio de uma gigantesca e tradicionalíssima corrente teórica e política, a do socialismo pequeno-burguês, cujos passos essenciais para tratar "criticamente" assuntos de economia são os seguintes:
1. estigmatiza-se a visão da extrema direita sobre qualquer assunto;
2. critica-se os "limites" de uma saída "reformista" formulada por alguma corrente fraca e caricaturada da "socialdemocracia européia" ou tupiniquim;
3. apresenta-se a formulação do socialismo pequeno-burguês, crítica das duas anteriores, como sendo a crítica e superação possíveis e efetivas, por vezes e en passant caricaturando e descartando como exótica ou irresponsável alguma formulação do marxismo revolucionário.

Esse método de abordagem é tremendamente conhecido nas esquerdas em geral.
Por exemplo, toda a crítica do "neoliberalismo" que se fez seguindo à risca esse método, foi um incansável suceder e martelar da tese de que a única superação possível do neoliberalismo, uma vez caricaturado, era aquela apresentada pela regulação keynesiana de esquerda.

Então, para um keynesiano como César Benjamim só há e só pode haver mesmo três soluções para o problema do desemprego:
1. a neoclássica;
2. a keynesiana de centro e de direita; conservadora;
3. a keynesiana de esquerda, que em algumas de suas variantes pode ser travestida nos termos do marxismo vulgar que tanto conhecemos no Brasil e na América Latina através de um balde de vertentes que os próprios Marx, Engels e Lênin caracterizam como socialismo pequeno-burguês; esse é o marxismo, marxismo vulgar ou socialismo pequeno-burguês, que Benjamim digere e defende.

Comentário anterior[4] ao texto de César Benjamim aponta para ingenuidade e para abstração da questão das classes no “Bela solução”. Está totalmente certo. É "ingênuo", pois na verdade em Benjamim só existe ardil reformista; e ele abstrai sistematicamente as classes, o que lhe confere um perfil político à direita dentro do espectro da socialdemocracia ou reformista. Mais uma vez há razão no comentário ao ser indagado que se nem no PSOL (que por sua vez é hegemonizado desde seu nascimento e concepção pelo reformismo vulgar e continuará sendo até o seu final) ele não coube, onde estará Benjamim agora? Ou está só, "em trânsito", ou já terá aportado em algum grupamento político congênere, mas que não se abra a coalizões orgânicas mais à esquerda, como o PSOL tem feito com o PSTU e PCB, p.ex.; vimos na última campanha presidencial que Benjamim teve imensas e insuperáveis contradições, conflitos, com as esquerdas da coalizão que se formou em torno do PSOL.

A única e verdadeira solução ou superação para o desemprego não existe no modo de produção capitalista, mas na sua superação histórica através da única via possível, uma revolução proletária internacional que leve toda a Humanidade a organizar-se sem propriedade privada, sem moeda, sem nações, sem classes, sem Estado, ou seja, no comunismo.

Sabemos que somente no marxismo revolucionário existe a solução teórica. Sabemos que as mais diversas forças sociais exploradas pelo capitalismo só poderão ser revolucionárias, no sentido histórico do termo, sob a liderança firme (e veja que não trata de “bloco histórico” e "sob hegemonia") do partido operário (vanguarda constituída pelo operariado consciente); só assim poderão realmente apresentarem-se como um conjunto de forças capazes de encarnar praticamente esse programa histórico (Marx), o único nas condições concretas atuais. Sabemos exatamente em que consiste a revolução proletária e suas fases segundo os cânones tradicionais do marxismo revolucionário (Marx, Engels). Sabemos que a América Latina, como ramo da futura revolução proletária internacional, atingiu, enfim, um nível de desenvolvimento das forças produtivas que lhe deixa somente a alternativa comunista para a superação das mazelas do modo de produção capitalista que a submete totalmente e irrevogavelmente. Sabemos que na dialética dessa revolução do continente latino-americano o operariado industrial de três países (Argentina, Brasil, México) formarão o grosso da vanguarda revolucionária que se constituirá em partidos operários nacionais e numa internacional já comunista latino-americana. Sabemos que esse horizonte não está em aberto e indefinido no tempo e no espaço; sob os golpes da atual crise este horizonte já pode começar a se aproximar decisivamente da dinâmica política real e concreta, e em assim fazendo começar a pautar concretamente a política atual dentro das esquerdas assim como a política em geral.

César Benjamim sabe de tudo isso porque é “ingênuo”. Talvez não considere mesmo a possibilidade real ou relevante de tal cenário. De qualquer maneira, ingênuo ele não é, e assim deixa em aberto, deixa insinuado, não consuma e não explicita na sua "bela solução" o todo do seu programa econômico estratégico, que, aliás, ele também tem e que conhecemos.
E conhecemos também o método para abordar cada um dos pequenos "cristais" que volta e meia aparecem à tona vindo do conjunto da "jóia" do socialismo pequeno-burguês.

Bem, quem quiser cair nessa, caia. Mas será cada vez mais difícil atribuir essa queda à ingenuidade ou desinformção; será cada vez mais difícil nos tempos a vir esconder ou disfarçar as afinidades.

Ivan J.

* * *

BELA SOLUÇÃO

por Cesar Benjamim

VISTO EM perspectiva histórica, desemprego crônico é uma anomalia. Nenhuma sociedade antiga condenou grupos significativos de seus integrantes a uma existência desprovida de função. No mundo contemporâneo, porém, parte da população não consegue encontrar um lugar social definido. Parece um problema insolúvel, que, com a crise, volta a crescer. Pelo menos três escolas, em economia, abordaram teoricamente a questão. Para os neoclássicos, os fatores de produção (entre eles o trabalho) são usados até o ponto em que o seu custo iguala a sua produtividade marginal (ou seja, a produtividade da última unidade aproveitada). Se há desemprego, então o custo do trabalho está maior que a sua produtividade marginal. É preciso ajustar as duas variáveis. Como a produtividade é relativamente rígida no curto prazo, o ajuste se faz pela redução dos salários. Se pressões políticas ou sindicais impedirem esse movimento, o mercado de trabalho funcionará de forma imperfeita, com desemprego.

Keynes introduz outra abordagem. Demonstra que, no capitalismo, o pleno emprego dos recursos tende a gerar mais bens do que a quantidade que se consegue vender. Os empresários param de produzir (e de contratar) quando a oferta iguala a demanda, pois a partir daí cessa a possibilidade de lucro. Como esse ponto de intercessão é atingido antes do uso de todos os recursos disponíveis, o equilíbrio entre oferta e demanda de bens se estabelece antes de se chegar ao pleno emprego. Por isso, Keynes defende políticas para estimular a demanda e, coerentemente, afirma que a redução dos salários só agrava o problema.

A terceira abordagem é de Karl Marx. Para aumentar a produção de valor, ele diz, o capital precisa comandar parcelas crescentes da capacidade de trabalho da sociedade. Desprovidas de alternativas próprias de sobrevivência, as pessoas devem ingressar nas atividades produtivas controladas pelo capital em troca de um salário. Nessas atividades, porém, o progresso técnico incessante expele cada vez mais gente. Assim, agem juntas duas tendências que têm efeitos contraditórios: uma incorpora trabalhadores à esfera capitalista da atividade econômica, a outra lança trabalhadores na rua. A maioria da população passa a ser assalariada, mas parte dela se torna excedente, em um movimento contínuo. Marx considerou esse "exército industrial de reserva" como um componente estrutural da nova sociedade. Pois, graças a ele, o recrutamento de força de trabalho, necessário nos ciclos expansivos, não fica limitado pela taxa de crescimento vegetativo da população, que é declinante.

Diferentes abordagens, diferentes propostas. A primeira afirma que os mercados se autorregulam e, deixados por sua própria conta, tendem a um ponto de equilíbrio em que a alocação dos recursos, inclusive do trabalho, tende a tornar-se plena. A segunda aponta que o equilíbrio entre oferta e demanda de bens, de um lado, e o pleno emprego, de outro, em geral não coincidem, o que exige políticas voltadas para incrementar a demanda. A terceira diz que, ao atrair e repelir força de trabalho na esfera produtiva, o capitalismo produz uma população excedente que, embora excluída, é funcional para a dinâmica do sistema. Marx teria considerado frágil a terapia keynesiana para o desemprego, pois contra ela continuariam a operar o que chamou de "leis de tendência". Sua solução implicava combinar progresso técnico com diminuição planejada da jornada de trabalho, remetendo a existência humana, cada vez mais, para o mundo da cultura. O homem, dizia, deve aos poucos deixar de fazer o que as máquinas e a natureza podem fazer, para no limite dedicar-se ao que só ele pode fazer, como estudar matemática e compor sinfonias. Bela solução.

*CESAR BENJAMIN* 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

Notas

[1] originalmente em http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51662
[2] http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51653
[3] Este livro, editora Forense, é produto de uma reflexão sobre notas do curso dado, em 1968, para estudantes de Ciências Sociais: "Não faltam manuais de introdução à economia, nem ‘marginalistas-keynesianos’, nem marxistas"– escreve Singer – "o que falta, ao que parece, é uma exposição comparativa e crítica das duas correntes". Aborda-se temas principais da Economia Política segundo os enfoques "marginalista-keynesiano" e marxista: Teorias do Valor, Excedente, Acumulação de Capital, Crédito e Emprego, Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico.
[4] vide http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51659.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

- HAMAS - Vitória estratégica 23Jan2009

APRESENTAÇÃO

Em termos de filosofia militar o mundo tem dado algumas reviravoltas.

Sun Tzu, Sun Bin, Clausewitz, Trotsky, Liddel Hart, Giap e tantos outros gênios da arte militar hoje certamente se reviram nos túmulos ao ver as façanhas da guerra defensiva fixa, contra forças imensamente superiores em meios, ou seja, numa guerra francamente assimétrica. A doutrina mais aceita até agora é a de que a guerra assimétrica favorece o lado mais fraco quando este adota uma estratégia de guerra de movimento.

O que os franceses não conseguiram com a Linha Maginot contra a Blitzkrieg alemã, o que os alemães não conseguiram com as fortificações no Canal da Mancha contra os aliados, HEZBOLLAH e HAMAS conseguiram: submeteram derrota às forças de ataque que dispunham de guerra de movimento.

Por outro lado, conhecemos as proverbiais façanhas de quem é submetido a sítio prolongado. Talvez não seja esse o caso das Guerras Israel-HEZBOLLAH (2006) e Israel-HAMAS (2008).

Há necessidade de estudo, investigação e reflexão a respeito. As implicações para a luta de classes são imensas, transcendentais.


-/-


GUERRA ISRAEL-HAMAS (2008)

Encerradas as atividades militares - ainda que com fragilidades e cuidados - já é possível emitir uma avaliação geral do conflito.

Foi o "plus" que tanto era aguardado em termos de guerra assimétrica.

Vitória total da guerra defensiva empreendida pelo HAMAS e pelo povo de Gaza.

Finalmente encontraram a "fórmula"; romperam o isolamento e fizeram uma guerra com toda a arte necessária, brilhante.

Gaza é hoje efetivamente uma plataforma militar instalada ao Sul contra Israel.

Dos objetivos da IDF, nenhum foi alcançado, absolutamente nenhum.

Mais que isso, todos os trunfos militares, novos, foram expostos à "visitação pública", ou seja, à observação atenta dos analistas e estrategistas militares! Phosphoforo, novas blindagens, bombas com urânio rebaixado e etc...

Está MAIS UMA VEZ provado: a superioridade aérea da IAF foi totalmente neutralizada numa guerra defensiva (2006 Hezbollah, 2008/9Hamas).

Por outro lado, o HAMAS, tudo indica, não expôs tudo o que tinha e que é! Assim como em 2006 o HAMAS.

Do ponto de vista internacional foi um desastre para Israel.

Seus ministros são literalmente caçados por toda a Europa onde há processos já abertos contra crimes de guerra praticados e totalmente documentados.

O HAMAS agora tem como objetivo rearmar-se - fará, não há como impedir. A fronteira com o Egito é porosa aos elementos de guerra que o HAMAS usa, e para outros que certamente irá usar em combates futuros.

O ponto futuro provável é uma nova guerra, ao norte e ao sul.

Talvez antes ou depois tenhamos um teste na Cisjordânia! Na Cisjordânia ainda é necessário "resolver" a questão do poder palestino. Creio que a Fatah não suporte mais muito tempo - o golpe à sua "autoridade" foi brutal. Sabemos que a fórmula dos USA, UE e Israel era viabilizar ABBAS em Gaza - agora, e creio que seja bem provável, percam a Cisjordânia!

Consta que o HAMAS perdeu 90 milicianos.

Do ponto de vista militar: muitíssimo bom! O HAMAS militarmente está intacto. Também seus "estoques" de mísseis saiu intacto dessa guerra - e com sobras.

A resistência por terra que o HAMAS ofereceu à IDF foi eficientíssima - a experiência também foi válida para a aquisição de "aprimoramentos" futuros por parte do HAMAS.

Por tudo e por todos, houve uma transição qualitativa brutal: da Intifada à Guerra Defensiva!

Assim como em 2006 no Líbano a guerra defensiva constitui-se na grande ameaça que Israel tem em suas fronteiras imediatas ao norte e ao sul - quem estuda a arte da guerra, a história das guerras, constata facilmente que a posição defensiva é superior à posição ofensiva, pois ela possibilita, e consagra, a superioridade da guerra defensiva.

O MARTÍRIO CIVIL

Incontáveis histórias de tragédias de comunidades inteiras, famílias e pessoas.
Tudo documentado à exaustão.

Muitos PULITZERs serão ganhos com as reportagens sobreos dramas da população de GAZA.

Assisti uma matéria ontem, pela BBC. Um reporter estava no Egito onde uma menina (uns 5 ou 6 anos) estava numa cama de hospital, cercada de todo carinho, pelúcias e etc. O rosto angelical mal compreendia a atenção. Na verdade era vítima dos bombardeios de GAZA sem identificação alguma que sobreviveu milagrosamente. Perdeu o movimento das pernas, mas não sabia ainda. O reporter pegou a foto dela no leito do hospital e foi a GAZA procurando de canto em canto quem a conhecia. Por fim encontrou um grupo de homens e mulheres num conjunto de quarteirões totalmente destruídos pelos bombardeios. Reconheceram a menina e em seguida acharam então o pai que estava vivo. A família fora toda morta, esposa, filhas e ele não encontrara ocorpo daquela menina. Identificou a filha pela foto e teve também a notícia da sua invalidez permanente. O momento, registrado, é que ainda lhe restou lágrimas...

O número de vítimas civis, paralizada a fase militar, continua crescendo na média diária, na medida em que os escombros vão sendo escrutinados.

Mas, sabemos, que o HAMAS desde agora, assim como o HEZBOLLAH desde 2006, não estão empenhados numa estratégia gandhiana de autoimolação e resistência pacífica procurando sensibilizar e desgastar o inimigo - não que tal estratégia seja inevitavelmente fadada ao insucesso. Apenas fica manifesto que não é a estratatégia do HAMAS e do HEZBOLLAH.

QUANDO OS ESTRATEGISTAS DO TERROR TORNAM-SE ATERRORIZADOS

Aos estrategistas israelenses restava contar com o efeito do TERROR para vergar a resistência do povo de GAZA! E realmente transformaram GAZA num inferno de phosphoro e de urânio rebaixado devidamente televisado.

A infantaria israelense, onde pôde, também massacrou mulheres, crianças e homens desarmados.

A estratégia do TERROR foi só o que restou a Israel, foi implementada e, ainda aí, os estrategistas e demais lideranças israelenses foram derrotados fragorosamente - o feitiço que se voltou totalmente contra o feiticeiro.

A situação é absolutamente aterrorizante, mas para Israel. Porque? Porque não há a esperança de que tenha ocorrido uma falha, um erro na implementação da estratégia. Não houve inabilidade na estratégia do terror implementada por Israel. O fato é que o HAMAS, o povo de GAZA estavam perfeitamente conscientes do que as IDF iriam fazer, não havia e não há ilusões.

Mas o terror estratégico não é um sofrimento apenas israelense. Os governos árabes que dão sustenção à geopolítica norte-americana na região e, por consequência, à geopolítica e ao militarismo israelense,viram-se desde 2006, com a façanha do HEZBOLLAH, diante de problemas indizíveis tanto interna com externamente. Agora, com a façanha do HAMAS, têm uma batata quente nas mãos que está incinerando sua posição. Para eles, que sempre estiveram coligados hipocritamente no "pragmatismo egípcio", nas suas razões de estado, agora resta contabilizar o prejuízo: o Irã, e seus aliados, estão fortificados com muita competência ao norte e ao sul de Israel.

CONCLUSÃO

Não há saída... apenas um cronômetro com seu próprio tic-tac! Israel, e seus aliados, vivem o que chamamos de inferno estratégico... muito provavelmente sem retorno!

Democracia Proletária está providenciando um estudo conclusivo sobre a atual Guerra Israel-HAMAS que envolve também a Guerra Israel-HESBOLLAH e os cenários conexos.

Muito aprendizado, muita cenarização para a geoestratégia global e, claro, muitas muitas lições para a luta de classes...

Em breve Democracia Proletária publicará esse estudo:
- no BLOG http://www.demopro.blogspot.com/
- e na PÁGINA http://sites.google.com/site/democraciaproletaria/

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

- Israel-Hamas - Breaking News! Hamas atinge Tel Nof 09 Janeiro 2009

Hoje [1] um míssil al-Qassam do Hamas teria atingido com precisão a base aérea de Tel Nof [2], uma das três principais de Israel. Ela fica a 27 km de Telaviv, nos arredores de Rehovot.

Avaliação: uma façanha!

Fantástica a capacidade de alcance e precisão.

Procurando no Google Earth é fácil constatar a magnitude e transcendência da façanha.
Para atingir Tel Nof o míssil voou sobre uma outra base aérea, a de Hatzor - isso considerando uma trajetória quase que óbvia tendo ele sido lançado do extremo norte da faixa de Gaza.
Esse míssil teria voado bem mais que os anteriores já lançados até agora nesse conflito.
As implicações militares desse evento são incalculáveis! O míssil em si não precisaria sequer ter ogiva letal. Basta realmente ter chegado lá para gerar uma verdadeira hecatombe no comando militar estratégico da IDF!

As agências ainda não deram essa notícia (07:25 BR, horário de verão) a não ser a Press-TV iraniana que apenas noticiou - falta, claro confirmações de praxe e etc.

Democracia Proletária acompanhou também as declarações de quem pesa nesta guerra Israel-Hamas:

a) Ali Larijani no Irã
b) Shimon Peres em Israel
c) Ayatollah Seyyed Ali Khamenei no Irã
d) Khaled Mashaal, do Hamas, na Síria
e) Alexander Saltanov, do Gov russo, na Síria
f) Hassan Nasrallah, Hezbollah, em Beirute
g) Tal Russo, general israelense, Telaviv
h) Kürat At lgan, general da reserva, Turquia
O quadro é prá lá de complicado para Israel, não só do ponto de vista tático mas, e principalmente, do ponto de vista estratégico.

As hipóteses de que não se trata mesmo de mais uma reação ou revolta isolada dos movimentos palestinos, mas uma ação no interior de uma muito bem articulada estratégia em curso vai se confirmando a cada dia. Esta é uma hipótese que aventamos na nossa análise de 08 de Janeiro.

Há um salto qualitativo fundamental e transcendente sendo dado.

Alguns dados sobre a base de Tel Nof. Consta que nela e nos seus arredores Israel armazena seu arsenal nuclear – segundo Press-TV. Um simples, até simplório, al-Qassam atingi-la em cheio, dispondo Israel de escudos anti-mísseis e etc, tendo o humilde al-Qassam, para atingir o coração militar de Israel, Tel Nof, sobrevoado uma outra base aérea militar... algo que certamente será considerado com muita atenção pelos estrategistas e lideranças israelenses.

Por outro lado, a guerra moral está sendo vencida de forma aplacadora pelo Hamas.
Perigos se colocam e podem enfraquecer ou mesmo reverter esse quadro psicológico global pró Hamas:

a) um atentado, forjado ou não, do estilo da al-Qaida;
b) um fato retumbante dentro do circuito islâmico conflagrado, p.ex. no Iraque,no Afeganistão e etc.
c) a banalização do conflito e da carnificina pela simples saturação midiática.

Vamos esperar as agências confirmarem esse possível feito fantástico, apesar de que o site da Press-TV já ter colocado a matéria agora, após algumas horas da primeira publicação, em destaque absoluto na sua página principal, inclusive com foto aérea da base de Tel Nof.

Outra notícia ainda passível de confirmação é que um oficial e um soldado israelenses teriam morrido em um ataque ao seu veículo militar, um tanque. Se isso é correto, o Hamas estaria usando armamento anti-tanque semelhante ao que foi usado pelo Hezbollah em 2006. Um simples e único fato desses, uma vez confirmado, seria suficiente para que as tropas israelenses não mais entrassem em Gaza.

Os bombardeios de Israel perderam totalmente sua eficácia militar. Atingem apenas alvos civis. A carnificina do povo palestino continua.

O Hamas hoje, 09 de Janeiro de 2009, lançaram 30 foguetes – sua ração diária. Sabemos o que isso significa.

A ONU, para variar, faz seu jogo de cena com proposta impossível de serem aceitas pelo Hamas e por Israel. A rigor, Israel parece que já busca com alguma intensidade um cessar fogo, com ou sem acordo.

Os palestinos da Cisjordânia estão começando a se mobilizar; talvez vejamos levantar uma Intifada em Jerusalém.

Notas

[1] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51437
[2] in http://www.presstv.ir/detail.aspx?id=81311&sectionid=351020202

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

- Israel-Hamas 08 de Janeiro 2009

Ivan J. 06-08 de Janeiro de 2009

I - Israel-Palestina e o Proletariado (06Jan09)
- Questão da Palestina, Questão Arquetípica
- O Muro de Berlim: desmonte surpreendente de um arquétipo
- Tese Geral
- A Tese Geral sobre a Questão do Oriente Médio e o Proletariado da Região
- Correlação de Forças, a mistificação da tese do "neocolonialismo" e nossa práxis
- As outras classes e as ações conjunbtas

II - Israel-Hamas - Questão Militar - Cenários ainda abertos (06Jan09)
- Introdução
- Hamas
- IAF e IDF
- Conclusão

III - Israel-Hamas – os objetivos estão vindo à tona (08Jan09)
- Introdução
- Estratégia e Grande Estratégia
- Disciplina estratégica
- A hipótese do Grande Islam
- A opinião pública internacional
- As limitações da estratégia israelense
- Hamas e uma estratégia consistente
- Hamas, uma guerra popular
- Conclusão

o O o

I - Israel-Palestina e o Proletariado (06Jan09)

- Questão Palestina, Questão Arquetípica

A questão da Palestina[1] é uma das questões arquetípicas do nosso tempo - está aí desde bem antes de nossa geração, a milênios, é mundial e quotidiana, faz parte do nosso "inconsciente coletivo", ou seja, dormimos e acordamos com ela, ou seja, ela é uma de nossas referências fundamentais.
Temos vários desses elementos arquetípicos, p.ex., a GM, a VW, o Dólar, as nações... etc.
Outra era a do, assim chamado, "socialismo real" ou a do "Muro de Berlim".

- O MURO DE BERLIM: desmonte surpreendente de um arquétipo

Algumas correntes nos anos 70 e 80, e eu inclusive, achávamos na época que não haveria solução histórica para o socialismo real e para o "Muro" no modo de produção capitalista, somente no socialismo, ou seja, só o proletariado revolucionário internacional poderia derrubar o Muro e resolver essa "questão" de um Muro dividindo a Humanidade entre dois mundos: o do capitalismo ocidental e o do "socialismo real" (para todos efeitos, capitalismo de estado); só na superação do MPC o Muro seria derrubado.

Problemão: houve solução no modo de produção capitalista! Ou seja, o modo de produção capitalista, impessoalmente, exterminou, e espero que para todo o sempre, o "socialismo real", assim como derrubou o Muro de Berlim!

Assim, como "tudo é divino e maravilhoso", tudo é também muito complicado: o proletariado como classe para si NÃO entrou autonomamente na história desses eventos, tendo por base sua auto-organização, seu programa histórico de classe e etc. O proletariado, no amálgama de "movimentos populares" da época apenas veio totalmente a reboque, dando o efeito de massa àqueles episódios!

- Tese geral

A lição teórico-histórica foi devidamente aprendida? Não há como saber de antemão, só colocando em teste novamente o novo modelo de análise, modelo de ver a realidade e sua dialética insuperável.

A chamada Questão da Palestina, claro, desde que não abordada formalmente com base nos "direitos", ou com base no Humanismo moral e ético e etc..., configura um excelente teste; a abordagem da classe é histórica e com base nas condições e objetivos de sua atuação concreta nela!

Arrisco-me hoje a dizer que no modo de produção capitalista não há solução para a Questão da Palestina!

A geopolítica e a geoeconomia estão armadas de tal maneira naquela região que a solução capitalista não emergirá; como emergiu no caso do Muro e do assim chamado Socialismo Real, ou seja, daquela forma superestrutural contingente de capitalismo de estado onde predomina a mais-valia absoluta. A queda do Muro de Berlim era algo possível no modo de produção capitalista, e ele teve uma solução histórica: o Muro não mais se reergueu!

- A Tese Geral sobre a Questão do Oriente Médio e o Proletariado da Região

Só quando o proletariado revolucionário de Israel tomar o poder em Israel, apresentar e impor o seu programa para toda a área do Oriente Médio, é que teremos uma solução para a área. As circunstâncias gerais que farão o proletariado revolucionário de Israel conquistar o poder, trata-se de uma outra questão!

CORRELAÇÃO DE FORCAS, a mistificação da tese do "neocolonialismo" E NOSSA PRÁXIS
Somos, claro, pela autodeterminação dos povos. Por isso somos anti-colonialistas; e anti-imperialistas quando o imperialismo adota práticas de colonialismo direto - o que não é qualquer retrocesso, mas muito ao contrário: o imperialismo pode, dentro do seu ser e da sua lógica, tornar-se colonialista na sua prática com territórios por ele dominado (isso é patente em Lênin); a tese, que aliás anda por aí na INTERNET, de um "retrocesso colonialista", inclusive na América Latina, é totalmente mistificadora e reacionária! O imperialismo não exclui de forma alguma as práticas colonialistas de dominação!

O Oriente Médio e a Questão da Palestina são terreno hiper-pantanoso na política internacional. Todos, absolutamente todos os interesses imperialistas globais atuam nesse imbróglio. A coisa mais fácil é se adentrar essa cena política e acabar sendo arrastado como massa de manobra para interesses que sempre são contra os interesses estratégicos e mesmo táticos do proletariado. O mais importante é termos uma análise própria, que só pode ver a partir de uma consciência própria do que está envolvido e determinando aquela situação histórica. Só com base nisso é que poderemos ter uma atuação crítica e efetiva na Questão da Palestina e nesse episódio em particular.

Por princípio, a classe sempre procurará se solidarizar com o povo da Palestina com todos os recursos possíveis. Mas apoiar-se nesse princípio para evitar uma análise profunda a situação e buscar uma atuação autônoma é um dos maiores erros que poderíamos cometer contra o povo palestino e contra nós mesmos.

Por outro lado, não temos que fantasiar nada; não temos praticamente recurso prático algum que tenha relevância dada a correlação de forças extremamente desfavorável para o proletariado hoje. O máximo que podemos fazer é atuar no âmbito pantanoso da "opinião pública" e através disso influenciarmos o modo como o próprio sistema encontrará um "band-aid" emergencial para mais esse episódio trágico para o povo palestino e para o proletariado internacional.

Porém, sabemos que nada disso significa uma solução e que não se conseguirá de modo algum evitar novas e piores catástrofes para o povo palestino.

- As outras classes e as ações conjuntas

Como reagem as classes médias? Do seu modo, impotente e mistificador por natureza.
Do ponto de vista emergencial, até por instinto de classe, o proletariado tem o impulso de demonstrar em termos práticos a nossa solidariedade. Inclusive onde houver negócios comerciais e outros entre estados, governos, empresas e etc com Israel, SE TIVERMOS CAPACIDADE EFETIVA. Manifestações e etc. Porém, no quadro atual, essa providência ainda tem que provar sua eficácia concreta.

O mais importante é aproveitar os terríveis episódios e nossa atuação nele enquanto classe para colocar elementos para o aprofundamento da consciência da classe; aproveitarmos para nos delimitarmos claramente em relação a como as outras classes se posicionam a esse respeito; atuar conjuntamente com as outras classes e setores da sociedade na solidariedade ao povo palestino, onde for o caso; mas em todas as manifestações o desafio será deixar bem clara a posição de classe, a denúncia das políticas dos governos e dos estados capitalistas, a denúncia da mistificação das classes médias e etc.

Não consigo aferir onde isto de fato esteja acontecendo.
Do ponto de vista estratégico efetivo, o melhor que podemos fazer pelo povo da Palestina seria aumentar o cacife do proletariado em nossos respectivos países como classe autônoma (Manifesto, o proletariado deve em primeiro lugar combater a burguesia de seu próprio país)!
Um bom início para avaliarmos as perspectivas estratégicas para a superação da Questão da Palestina reside em avaliarmos a eficácia das nossas estratégias que têm como objetivo nos fortalecermos para enfrentar nossas próprias burguesias e nossos próprios estados opressores de classe.

Arrisco-me a dizer que a Questão da Palestina não tem mesmo qualquer solução histórica no modo de produção capitalista. Se isso for verdade, o que podemos esperar é uma terrível sucessão de massacres do Povo Palestino perpetrados pelo estado israelense, num futuro próximo uma possível guerra geral na região e etc. O que nunca trará solução definitiva para a Região.

II - Israel-Hamas - Questão Militar - Cenários ainda abertos (06Jan09)


- Introdução

A configuração militar[2] desta invasão da Palestina pelas forças israelenses parece ser completamente diferente da Guerra Israel-Hezbollah.

Ao que tudo indica, no sul do Líbano o confronto real entre a infantaria israelense e o Hezbollah se deu em terreno rural. Ao que tudo indica na Faixa de Gaza o confronto principal se dará em área urbana. Ao que tudo indica a iniciativa contingente pertenceu ao Hamas, assim como a da guerra anterior pertenceu ao Hezbollah. Ao que tudo indica, após a primeira fase protocolar de intensos bombardeios aéreos e destruição da infra-estrutura, as ações militares por terra ainda estão "soft" - isso pode denotar uma certa cautela por parte das forças israelenses.
Hamas

Algumas conjecturas são possíveis:

a) será que o Hamas ao atrair as forças israelenses para dentro do seu território e para dentro de suas cidades está implementando uma armadilha estratégica? Para isso o Hamas teria que ter preparado todo um dispositivo hiper-eficiente de guerra urbana, combinando uma estrutura de bunkers e de grupos de excelência em guerrilha urbana; claro que o objetivo seria impor uma perda humana insuportável para Israel e com isso uma nova desmoralização; para tanto, o Hamas deveria dispor de armamento anti-tanque e de tropas que pudessem combater de igual para igual a infantaria israelense; nesse caso a ofensiva contingente do Hamas se configuraria como iniciativa estratégica; as forças israelenses estariam entrando num atoleiro insuportável;

b) será que o que moveu o Hamas foi simplesmente a asfixia imposta pelo "sitio" israelense? Se assim foi, a iniciativa contingente pode ter sido do Hamas, mas a iniciativa estratégica continuaria sendo de Israel; a única chance do Hamas é que as pressões internacionais interrompam a ofensiva israelense antes que ela realize seus objetivos.

- IAF e IDF

Por outro lado, a ação de Israel pode ser a combinação de vários vetores:

a) estamos em meio a uma disputa interna de poder e a questão da Palestina é um dos elementos fundamentais; ao que tudo indica os ministros hegemônicos no atual esquema de poder, sendo candidatos, estão muito baixo nas pesquisas de opinião;

b) a ofensiva israelense na Faixa de Gaza poderia ser um movimento preparatório para uma ofensiva em outro teatro, como o do Líbano ou o da Síria, ou mesmo no Irã;

c) por outro lado, a atual ofensiva pode ser um expediente necessário para adentrar o período do novo governo norte-americano com um fato consumado; sabemos que a linha internacional do futuro governo é ditada por Brzezinski e para ele trata-se de ganhar espaço de manobra nesses "conflitos menores" para jogar tudo no "conflito maior"; onde ele puder negociar para tirar pressão em cenários secundários ele o fará; a Palestina é um cenário secundário; o cenário principal é o do Leste Europeu, o do Cáucaso e o da Ásia Central; o grupo de Brzezinski é francamente favorável a uma negociação com o Irã; para Israel essa é uma solução impensável; Israel não quer de modo algum ser um peão no jogo "maior" da geopolítica americana; a idéia seria "tornar-se" novamente o "maior" problema dos USA e o momento para providenciar esse posicionamento estratégico é agora, e talvez já com algum atraso.

- Conclusão

Temos que monitorar o desenrolar dos eventos para vermos o que eles confirmam, o que eles revelam de novo e para onde eles apontam.

III - Israel-Hamas – os objetivos estão vindo à tona (08Jan09)

- Introdução

As formas da guerra são estridentes[3]! As formas nos envolvem, envolvem nosso coração pois há sangue envolvido.
Mas sim, tudo indica que os objetivos estratégicos dos envolvidos, estão vindo à tona.
Vamos explorar nessa análise a performance do Hamas e algumas hipóteses a respeito que estão vindo à tona.
De início estamos assistindo a um magnífico exercício de disciplina estratégica!
Ponto que pode ser fundamental: Israel afirmou hoje que não quer que Gaza se transforme num enclave iraniano!
É fato! ....?

- Estratégia e Grande Estratégia

Podemos estar constatando isso pelo alcance bem expandido dos foguetes lançados pelo Hamas:

a) estava em 6 km - o alcance histórico, com possibilidades de ser montado em garagens; produto tão difundido, vindo desde os anos 50 que tornou-se artesanal, talvez migrando para manufatura (interessante).

b) foi a 12 km nessa guerra, o que foi uma novidade - poderia ser uma otimização do dispositivo já disponível - é uma hipótese, mas dentre outras.

c) e foi a 26-30 km, logo em seguida - aí não há "otimização" que explique; trata-se de outro dispositivo.

Corre a boca pequena que 300 quadros do Hamas teriam sido treinados pelo Hezbollah; não é difícil que isso tenha ocorrido, e as infantaria israelense teme os "300" de GAZA. Não há nada mais mortífero para uma infantaria como a de Israel.

Os 3 ou 4 foguetes lançados do sul do Líbano ontem parecem ter sido pela FLP - Frente pela Libertação da Palestina. Foi a única organização que se pronunciou a respeito e não desmentiu - praticamente confessou a autoria. Não quer perder o bonde da história. Parece não ter uma estratégia alicerçada em grandes estratégias. Parece estar isolado. Precisaremos verificar essa condição da FLP no próximo transcorrer.

- Disciplina estratégica

O povo palestino está fazendo seu papel. Morrendo, sendo destroçado e politizando cada lágrima, cada corpo que enterra, cada criança, cada mulher, cada idoso, cada guerreiro - tudo é capitalizado para a sua causa coletiva. Parece que não irão recuar, ou seja, não irão derrubar o Hamas, muito ao contrário. Mas precisamos ir acompanhando esse elemento da correlação de forças. Esse sofrimento politizado nos dá uma lição maravilhosa contra o humanismo piegas das classes médias e do senso comum, essa vulgaridade. Todos dizem "Parem a Chacina", enquanto o povo da Palestina diz: ...só com a vitória! Na verdade o povo da Palestina, e dizemos Palestina e não somente Gaza, sabe muito bem porque está vertendo seu sangue - não creio que uma ilusão teria sobrevivido à essa persistência da sua realidade histórica e cotidiana. Isso ele demonstra a cada cena desta guerra. Israel não sabe o que fazer, mas o povo palestino está demonstrando saber muito bem o que está fazendo. Não está mostrando um aventureirismo, uma explosão de humores... tudo isso aquele povo já fez, hoje não há mais lugar para isso - pelo menos é o que estamos lendo claramente nos fatos desta guerra.

Estou vendo a cada momento uma lição de disciplina.

Não há como deixar de ver uma ligação, um elo! Trata-se sempre de uma hipótese, mas que eu estou, pelo menos agora, sendo instado a explorar. O conflito Israel-Hezbollah, que tivemos condição de acompanhar em detalhe aqui mesmo na ESK, colheu resultados muito poderosos, tanto simbolicamente como militarmente. Revelou um desenho de alianças, um arco de interesses geopolíticos que revelou toda a sua potência. Pela primeira vez a Blitzkrieg israelense foi fragorosamente derrotada numa guerra defensiva. O Hezbollah assumiu a iniciativa, atraiu as forças israelenses para o sul do Líbano e lá as derrotou. Uma guerra assimétrica que mostrou a potência da defesa ativa. Várias lições que a liderança do Hamas e o povo de Gaza parecem ter tirado muito bem.

- A hipótese do Grande Islam

Creio que o interregno da guerra Israel-Hezbollah e a atual Israel-Hamas deve ter sido aproveitado para os acertos internos ao Hamas e ao povo palestino de Gaza para trabalhar essa aliança, formar um plano, preparar tudo e, no momento adequado, implementar a estratégia - que a meu ver ainda está na sua fase de teste! O resultado parece muito promissor. Imagino o salto subjetivo que teria que ser dado pelos envolvidos para unir sunitas fundamentalistas e shiitas fundamentalistas numa estratégia única, em condições de vida ou morte literalmente. Se este passo for dado, ele terá um alcance TRANSCENDENTE! Ou seja: um grande Islam poderia estar emergindo dos resultados dessa aliança "pontual"! Não estão brincando em serviço - o buraco é um pouco mais embaixo.

- A opinião pública internacional

Além da estratégia no plano interno, ela tem Mas as classes médias e o senso comum ocidental, movendo-se segundo seu ser, fazem também sua parte, aliás totalmente a reboque dos fatos, totalmente segundo a "lei dos grandes números". No problems, e que assim seja - trata-se de impactar a "opinião pública" internacional. Cada um responde segundo seu ser social, sua posição na produção, a qualidade de consciência que conseguiu alcançar. Uma estratégia de conflito local tem que contemplar esse aspecto subjetivo-global, já diria Ho Chi Minh!

Israel apresenta as cenas dos massacres para consumo interno. É um dos objetivos, tentar retirar da garganta o espinho que o Hezbollah colocou no último confronto no Líbano.

- As limitações da estratégia israelense

No entanto, Israel tem objetivos militares muito claros:

a) eliminar fisicamente a liderança do Hamas - o Hamas já está preparado para essa eventualidade, aliás quase certa; suas lideranças são prontamente repostas, seu dispositivo de comando não sofre qualquer abalado com o extermínio de seus líderes em função; terrível lição para a continuidade da luta;

b) tentar enfraquecer a liderança do Hamas -
b.1) isso já está comprovadamente descartado, aliás o contrário na Faixa de Gaza;
b.2) Israel pode, ao contrário, provocar uma queda da OLP na Cisjordânia na medida em que os palestinos lá podem, como já estão fazendo, vir às ruas e alastrar o conflito para aquela região, o que significaria a curto prazo a explosão de uma Intifada naquela em Jerusalém, e a médio prazo uma derrocada da OLP pelega, safada e vendida aos USA, a Israel e aos príncipes árabes;

c) tentar de tudo para fechar a linha de suprimento do Hamas também ao sul - via Egito; Hosni Mubarak parece que não irá fazê-lo. Por ele mesmo, não interessa deixar a posição em que está, ou seja, a de "interlocutor" entre as partes. Com isso consegue permanecer numa posição viável dentro do seu próprio território político. O jogo é pesadíssimo dentro do Egito.
A fronteira sul da Palestina, tudo indica, continuará "porosa" no curto prazo, que é o que interessa para o conflito em andamento.

- Hamas e uma estratégia consistente

O Hamas hoje (08Jan09) lançou até agora pouco 22 mísseis sobre Israel. É a ração diária. É o sinal de que o Hamas está obtendo, de algum modo que não é nada transparente, o que deseja. Agora pouco, 19:00hs, o Hamas recusou a proposta de acordo oferecida pela ONU-EGITO-FR! Isto quer dizer que o Hamas ainda não atingiu seus objetivos - sua máxima nesse para esse momento é: a luta pela Palestina se dá dentro da Palestina!

Isto quer dizer que o Hamas ainda está com a iniciativa estratégica.

O grande temor estratégico seria que desta feita ainda o Hamas estivesse internacionalmente isolado. Tudo indica que não. Mas é algo que veremos se confirmar com o decorrer dos acontecimentos.

De fato, tudo está sugerindo uma primeira experiência de "parceria militar"! Creio que o Hamas e os palestinos de Gaza estão fazendo um primeiro teste de disciplina. Sua missão é símbólico-militar, mostrando que Israel não poderá mais interromper, por suas próprias forças, os mísseis, ou seja a auto-determinação dos palestinos de Gaza. Se isso for realmente alcançado, e parece que será (mas temos que ir acompanhando), o povo palestino como um todo (eixo Gaza-Jerusalém) irá se unificar em torno do Hamas. A coisa toda é inteligentíssima, brilhante estratégia (a confirmar se é esta mesmo)!

- Hamas, uma guerra popular

A estrutura de classes da sociedade palestina é complexa.
Há burguesia, há proletariado. Há uma vastíssima pequena-burguesia. Há um vasto semi-proletariado e há campesinato médio e pobre! Uma viagenzinha pelo Google Earth mostra como isso acontece espacialmente.

Aliás, um detalhe técnico: quando se está no Google Earth "flying" pela península do Sinai a resolução é fantástica, vê-se a arrebentação das ondas do Mediterrâneo. Quando ingressamos na Faixa de Gaza ou em Israel, a resolução cai. Interessante!

A indignação não seria nada, apenas um sentimento, se não se fizesse acompanhar por uma estratégia consistente de luta! A indignação sem estratégia seria apenas uma porta para a auto-humilhação. A indignação sem estratégia é o que há de pior no mundo, é a impotência.
Quanto à indignação do povo palestino com sua condição, não temos qualquer dúvida! Quanto à sua estratégia, vemos que tudo está indicando que é inteligentíssima finalmente! Por isso, os palestinos vão muito bem obrigado na sua luta, ou seja, estão lutando muito bem, têm claro que esse momento de guerra contra Israel e as vidas que lhe estão sendo tomadas são apenas um episódio, agora dentro de uma estratégia consistente, uma guerra que terá um resultado só: a derrota do sionismo.

- Conclusão

O problema é a nossa própria indignação com esse e outros fatos... o que ela está nos mostrando quando se transforma em atos. Interessante uma reflexão a respeito.

A indignação não gera automaticamente uma estratégia. Uma estratégia não é uma idéia: é uma EXPRESSÃO, um PRODUTO SOCIAL! Aliás, muito antes de ser um artifício intelectual! A força de uma estratégia de luta é fruto de anos de luta, de preparo, fracassos e de sofrimento coletivo. A estratégia emerge aí nesse processo. Alguns acham que ler Sun Tzu (que, aliás, é curtinho) “resolve”, ilumina! Isso é risível! Uma estratégia "instantânea", "inspirada", coisa de "expertos"! Podemos dizer com segurança a respeito: não há atalhos para guerras populares ou guerras de classe.

Sob esse ponto de vista tudo indica que o pessoal do Hamas, e claro, dos palestinos de Gaza, estão dando NESSE EXATO MOMENTO um salto qualitativo fantástico, e esse episódio parece ser a expressão desse salto. Os analistas militares europeus e norte-americanos já declararam: não há chance de vitória militar para Israel. Agora sabemos o que realmente deve estar em jogo e podemos adendar: não há chance de vitória política, simbólica e estratégica para Israel.
O jogo na Palestina é muito sério, como o do proletariado da América latina também o é.
Interessante.

Notas

[1] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51400.
[2] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51402.
[3] in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51435

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

- Função histórica da crise do Governo Lula e do PT


Os limites definitivos da SD no Brasil

Fechamento do Ciclo Histórico da Social-Democracia no Brasil


Ivan J., 11Jul05

Sumário
- Anotação de 01 de Janeiro de 2008
- O OLHO DO FURACÃO
- TESE GERAL das JORNADAS DE JULHO do “13” (9, 10 de Julho de 2005): a América Latina está pronta para uma revolução proletária
- FUNÇÃO HISTÓRICA DA CRISE ATUAL DO GOVERNO LULA E DO PT: os limites definitivos da SD no Brasil (versão 10/11Jul05)


***


Anotação de 01 de Janeiro de 2008


O texto “Função Histórica da Crise Atual do Governo Lula e do PT: os limites definitivos da SD no Brasil” foi o primeiro a tratar numa perspectiva histórica o significado do ciclo que se encerrava e que estava dando lugar a outro. Click na figura acima para ampliá-la. (*)
Formulações surgiram depois para caracterizar o ciclo que se encerrava como sendo o do PT e da CUT. Nossa posição sempre foi a de que PT e CUT eram expressões de algo muito mais profundo e arquetípico que na verdade os havia colocado. PT e CUT eram encarnações de um processo mais profundo, mais amplo. Este processo econômico, social e político, a meu ver, era o projeto social democrata. Ele havia cumprido toda a sua trajetória, toda a sua função mistificadora e, por fim, havia chegado ao poder do Estado. Através dessa trajetória a Social-Democracia, encarnadas localmente no PT e na CUT passou por diversas fases e, por fim, desnudou sua natureza, natureza que sempre teve.

A meu ver conceber o ciclo que ora se fecha como sendo do PT e da CUT é ficar prisioneiro das formas e não alcançar a essência. Essa essência, como vimos acima, é uma forma histórica recorrente nas sociedades capitalistas maduras: a social-democracia. Qual o problema dessa forma de conceber o ciclo histórico que se encerra? Se o ciclo é do PT e da CUT, então significa que não estaria na concepção e no programa a questão, mas sim na forma como o PT e a CUT transitaram nesse processo, o que caracterizaria uma insuficiência das lideranças. Superar o ciclo do PT e da CUT significaria então, em essência, recolocar a mesma concepção e o mesmo programa, mas com lideranças renovadas.

Para as oposições minoritárias se demais minorias que durante todo esse processo estiveram orbitando em torno do poder e da principal oposição que era o próprio PT e a CUT, a concepção de que tratou-se no fundo do ciclo do PT e da CUT afeta as suas próprias críticas e as perspectivas que descortinam para o período a vir. Aquelas críticas das oposições no período anterior, se eram limitadas, continuarão a sê-lo agora com o esgotamento do ciclo anterior. A análise do que seria o próximo ciclo que vemos emergir dessas correntes são tão insuficientes quanto o eram suas críticas aos poderes constituídos e às principais oposições no ciclo anterior.

O encerramento desse ciclo da Social-Democracia coloca, nos seus estertores a abertura de um novo ciclo histórico, o ciclo do Socialismo Proletário. Neste ciclo, dadas as condições objetivas, o proletariado tenderá a constituir-se em classe autônoma frente ao capital a partir da liderança social e política de seu núcleo duro, o operariado industrial dos setores de ponta da economia. É desse núcleo duro que partirá a força e o paradigma para a fase das lutas econômicas, até que as formas de organização econômicas evoluam para uma organização multi-profissional e multi-regional, organizando e expressando os interesses do proletariado brasileiro. Com o aprofundamento da crise, as lutas econômicas, num determinado grau de seu desenvolvimento quantitativo e qualitativo, colocará na prática a necessidade de um salto na organização da classe: trata-se da organização da classe para a luta política. Nesse momento é que surgem as condições reais para que se coloque para a própria classe a questão do partido da classe, o partido operário. Este ciclo, o ciclo que estamos chamando de ciclo do Socialismo Proletário (distinguindo-o do Socialismo Pequeno-Burguês e do Socialismo Burguês), levará a classe até a conquista do poder e a instauração do seu estado de classe. Aí, inicia-se um outro ciclo, uma outra transição.

Hoje essa concepção dos ciclos políticos está bem mais aprofundada. Voltaremos a ela nas postagens a vir.

O OLHO DO FURACÃO

O olho do furacão pode ser muito pequeno
ou já estar se estreitando drasticamente

O furacão[1] quando atinge uma região, o faz com ventos que se aceleram e tornam-se avassaladores. Trata-se da chegada do furacão. Os ventos vêm de uma direção e rumam para a oposta causando estragos.

No entanto, conforme o furacão se move sobre a região, o OLHO do furacão vai se aproximando. Aí vem a passagem do OLHO do furacão. Quando ele está sobre a região, nenhum vento sopra, nenhum som é audível e o céu acima fica totalmente azul, aparecendo inclusive estrelas se for durante o dia. Conforme o furacão se move o OLHO vai dando lugar novamente a tormenta sobre a região. No entanto, agora os ventos avassaladores sopram na direção contrária.

Há alguns anos a NASA estava para lançar um foguete, mas um furacão se aproximou do Cabo Canaveral. O adiamento prolongado do lançamento envolveria problemas que implicariam na verdade em cancelamento do vôo dada as características do combustível. Por coincidência o OLHO do furacão ia passar exatamente sobre o Cabo Canaveral. Quando o OLHO do furacão chegou, eles fizeram o lançamento do foguete sem qualquer problema. Foi uma façanha genial, um lançamento espacial na passagem de um grande furacão.

Usamos essa imagem do OLHO DO FURACÃO para tentar caracterizar, em meio à saraivada de "cuecões", a qualidade do momento que estamos vivendo com a CRISE DO GOVERNO e a CRISE DO PT.[2].

A discussão em torno disso foi tão intensa que ao chegar em casa neste domingo, ao dormir sonhei.

Como foi o sonho? Lá estava o foguete para ser lançado, mas o olho do furacão era muito estreito. O foguete foi lançado, era imperativo. Ele subiu e entrou no buraco estreito entre as nuvens densas que giravam furiosamente. Ao sair na ponta superior do buraco rumo ao espaço sideral, o buraco tornara-se tão estreito que o foguete a alta velocidade "raspou" as bordas do buraco formado por nuvens densas, deixando inclusive a marca da sua passagem nas nuvens. OU SEJA, segundo meu sonho, o buraco está se estreitando e, consequentemente, a situação de falta de parâmetros e referências, de ausência total de ventos (SENTIDO) irá durar muito pouco.

Foi um sonho todo em cinza escuro. Primeiro eu via o olho do furacão de baixo, conforme o foguete era lançado. Depois eu o via de cima, conforme o foguete na decolagem saia dele. O foguete entrou no olho do furacão numa passagem já estreita e saiu dele numa passagem que havia se estreitado mais ainda. Interessante a psique sonhadora. Aliás, como Junguiano eu só posso estar muito impressionado com meus próprios sonhos.

o O o

TESE GERAL das JORNADAS DE JULHO do “13” (9, 10 de Julho de 2005): a América Latina está pronta para uma revolução proletária

Afinal, o marxismo revolucionário tem o que a dizer sobre a revolução latino-americana e sobre o seu proletariado?

As discussões foram hiper-intensas e muito criativas no encontro com o pessoal do “13”. Foi a primeira vez que procuramos uma via para encarnar as discussões que até agora deram no nível mundial da GeoEconomia e da Geopolítica. Buscamos os desdobramentos e as implicações da geopolítica e da geoeconomia do capital sobre a geopolítica e a geoeconomia dos trabalhadores à luz dos movimentos sociais proletários emergentes na América Latina.

As previsões de que a América Latina irá desempenhar um papel fundamental e original na "seriação" da revolução mundial[3] estão se confirmando: no mundo, a única região "vermelha" é a América Latina, sendo que é vermelha não em função dos seus governos populares ou de esquerda, mas em função da emergência, ainda pontual e incerta, mas já com alguma persistência, do proletariado.

Várias "especificidades" foram abordadas:
a) a do proletariado argentino
b) a do proletariado boliviano
c) a do proletariado venezuelano
d) a do proletariado brasileiro

Todos os pontos cruciais dessas emergências (não discutimos Equador, Paraguai e México, apenas foram tocados en pessant) foram muito discutidos e profundamente problematizados. Não creio que haja hoje discussões nesse nível sendo travadas nas extrema-esquerdas, ou pelo menos não tenho notícias que tal esteja ocorrendo.

No sábado retomamos e discutimos os modelos geopolíticos e geoeconômicos globais, adicionando as recentes movimentações da China em relação ao Eixo Paris-Berlin-Moscow. Já aí emergiram vários temas, particularmente o ataque frontal da economia política de esquerda contra a centralidade do proletariado e a revolução proletária na América Latina. Começamos a debater as formulações de Ricardo Antunes. No sábado, com uma agenda já conhecida, a discussão intensificou-se e foi radical.

Já no domingo tornou-se sem limites. Dentro de cada escândalo do governo as esquerdas estão também desabando, tanto as da "reforma" como as da "revolução". Não houve qualquer assunto "intocável". Os melindres foram afastados. O trabalho foi centrado nos movimentos sociais proletários da América Latina.

Um companheiro do “13”, Jacaré, fez um relato de sua recente viagem à Bolívia, trazendo muitos e fresquíssimos subsídios. Vimos algumas imagens em VHS e fotos das estupendas lutas em La Paz.

Foi muito discutida a natureza dos movimentos "piqueteros" da Argentina. Discutiu-se a sua eventual natureza “lumpen” ou sua natureza proletária. Companheiros estiveram em contato com as mais diversas conformações de piqueteros e suas diferentes formas de expressão. Companheiros estiveram com “Barrios de Pie”, com “MTR” e com outros. Discutimos a natureza dos movimentos de ocupação de fábricas. Discutimos a natureza da organização da classe em partido revolucionário.

Como era de se esperar a discussão sobre a "Razão de Estado e Razão das Massas Proletárias" nos atingiram em cheio.

Daí a questão da natureza da Revolução Bolivariana e da atuação geopolítica de Hugo Chávez e Fidel Castro no seio dos movimentos proletários e suas interlocuções. Do mesmo modo foram discutidas as estratégias em curso dos movimentos radicais e moderados nessas revoluções.

Discutimos a respeito dos cenários de eventual tomada de poder pelo proletariado e campesinato revolucionários (possibilidade concreta na Bolívia) numa situação com risco forte de isolamento. Discutimos as questões relativas ao eventual perfil de governos revolucionários nesse contexto de desigualdades e desnivelamento das lutas sociais entre os diferentes países.

Discutimos se "valeria a pena" tomar o poder pela via revolucionária quando essas condições políticas e subjetivas se apresentassem. Seria viável sustentar o poder?

Discutimos sobre os contornos gerais das TAREFAS ECONÔMICAS para países com D1 e sem D1[4]. Creio que uma discussão muito avançada, mas no quadro em que os movimentos sociais proletários se encontram na América Latina, uma discussão procedente. Como essas tarefas seriam implementadas pela burguesia, pela pequena-burguesia e pelo proletariado revolucionário.

Discutimos a natureza do "socialismo latino-americano" (Dussel, Aricó, Harnecker e muitos outros) como parte importantíssima da "herança" que deverá ser devidamente superada para que o jovem e imenso proletariado latino-americano possa tornar-se apto e liberado para enfrentar o seu inimigo: o capital.

Discutiu-se as condições da reunificação da classe. A natureza das correntes do marxismo revolucionário que nasceram nesse contexto de contra-revolução. Discutiu-se sobre a natureza da solidariedade proletária internacional e suas condições concretas de efetivação, p.ex. no Brasil.

Depois, discutimos os indicadores do aumento do Exército Industrial de Reserva no Brasil (com base na Região Metropolitana da Grande São Paulo), suas implicações para uma retomada das lutas proletárias, inicialmente a partir das franjas do proletariado[5]. Comparamos com a dinâmica do movimento na Argentina. Consideramos as hipóteses de uma retomada, inicialmente, a partir do núcleo operário desenvolvido. A avaliação inicial é que a retomada provavelmente ocorrerá primeiro a partir das franjas externas do proletariado, dentro do EIR das grandes metrópoles. Inúmeros desafios estão postos, mas caminhos são visíveis... ainda não trilháveis. Interessante destacar a presença de vários militantes com vasta experiência nesses tipos de luta.

Discutimos a respeito do agente revolucionário. Aí emergiu a discussão do que é o proletariado, do que é o lumpenproletariado, do que é o operariado qualificado e do que é o operariado não-qualificado, o que é a aristocracia operária. Qual a função de cada um desses segmentos na revolução? Minha posição (Marx, Engels, Lênin) por enquanto, em função do que encontrei em Marx, Engels e Lênin, é de que a base social para uma política revolucionária radical do proletariado é a massa dos operários não-qualificados da grande indústria - este é o núcleo duro da política revolucionária e de seu partido. Me parece, num primeiro e hiper-precário approach, que considerando mesmo os últimos movimentos de 78 e início dos 80's no Brasil, essa visão acaba se confirmando. Na verdade, a questão crucial é o que se entende por LUTA OPERÁRIA REVOLUCIONÁRIA. Há todo um estudo a ser feito em Marx, Engels, Lênin e Rosa sobre o papel e a função dos sindicatos e da luta econômica no conjunto da luta revolucionária da classe.

Depois discutimos sobre a natureza cíclica e a história recente dos ciclos econômicos mundiais. A partir daí foram feitas cenarizações sobre o retorno da crise cíclica. Não cedemos à tentação de "agendar a revolução". Não há mecanicismo. O que se procura avaliar é a probabilidade de ocorrência de uma inflexão "singela" na dinâmica da subjetividade do proletariado a partir das cenarizações da próxima crise cíclica. A natureza dessa inflexão foi devidamente apresentada para não ser confundida com a abertura de uma vaga revolucionária e muito menos de uma situação revolucionária.

Discutiu-se sobre os conceitos de "vaga revolucionária", "vaga contra-revolucionária", "situação revolucionária". Os problemas na verdade foram tocados, mas já revelou-se a crucial importância desses conceitos ou noções. Como caracterizar o momento que vivemos, como compreender a natureza das diferentes espécies de lutas em que o proletariado pode estar, ou não estar envolvido?

Várias outras foram as questões que emergiram, sobre a qual avançamos e discutimos em caráter inicial e muito emocionados, eventuais TESES. Há necessidade de aprofundarmos essas TESES INICIAIS sobre todos esses pontos. Sobre essas teses há que se levantar as CONTRA-TESES junto à economia política burguesa, pequeno-burguesa e junto às extrema esquerdas. Só assim poderemos começar a esboçar as nossas SÍNTESES.

VENEZUELA E A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA - um enigma para mim particularmente; é hoje a principal prioridade em termos empíricos, compreender a Revolução Bolivariana e a situação e função do proletariado nela. Minha posição de partida é a de absoluto ceticismo em relação com o caráter revolucionário do governo venezuelano. É revolucionário num sentido geral dado estar atuando a favor do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, sendo, portanto, um governo pró-proletarização[6].
No entanto, é um governo do capital que tem tido condições de mobilizar o proletariado venezuelano, com pleno êxito, em prol do desenvolvimento capitalista na Venezuela. Trata-se de uma situação típica já colocada por Marx, Engels e Lênin da classe em si a reboque de setores da burguesia ou da pequena-burguesia (Manifesto). Em suma, o proletariado não está organizado aí autonomamente como classe para si perseguindo seus próprios objetivos, cumprindo com os imperativos do desenvolvimento das forças produtivas, mesmo as capitalistas, segundo seus desígnios. O proletariado não está organizado autonomamente pressionando seus respectivos estados capitalistas a fazerem tal ou qual política interna ou externa. Do mesmo modo, o apoio local ou a partir de outro país, que se dá ao governo nacional deve ter como lastro a respectiva base social em movimento, o proletariado em movimento ou a perspectiva desse movimento, tem que contemplar a situação concreta do proletariado, no caso, venezuelano e o do seu respectivo país, assim como a classe no seu conjunto.
Só a partir daí o "TEXTO" DA POSIÇÃO DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO DE APOIO OU NÃO, contemplando todas as variáveis do desenvolvimento das lutas de classes proletárias pode ser redigido ou falado. Começo, sob imensa pressão, a rastejar na questão, procurando os nortes e etc. Não consigo apoiar nenhuma das posições disponíveis no meio das esquerdas. Elas vão do "senso comum" ao "oportunismo", "da tradição do socialismo latino-americano" até o "voluntarismo trotskysta". Estou em suspenso nesta questão, procurando a perspectiva do proletariado venezuelano, do proletariado internacional. As posições correntes na esquerda não convencem e padecem das precariedades conhecidas e tradicionais. Os insights por enquanto vieram das lutas concretas do proletariado argentino e boliviano. Falta o quadro das lutas concretas do proletariado venezuelano. Já as condições concretas do proletariado brasileiro ainda estão por emergir. Em suma, são necessárias fontes sobre a situação do proletariado venezuelano, principalmente o de Caracas.
Qual a natureza do Estado venezuelano, qual a natureza do governo e do movimento de massas?
Qual é o momento histórico por qual passa a Venezuela?
O JORNADAS DE JULHO de 2005 do “13” cumpriu tudo o que se esperava e algo mais. Deu subsídios imensos para a continuidade trabalho. Foram levantadas e discutidas as questões determinantes, que deverão alimentar as investigações por mais um grande tempo.

FUNÇÃO HISTÓRICA DA CRISE ATUAL DO GOVERNO LULA E DO PT: os limites definitivos da SD no Brasil (versão 10/11Jul05)

Estamos com uma crise da política institucional em andamento[7] que se apresenta como um show de mídia, um show da democracia burguesa - por mais dramáticos que sejam os seus lances e envolva nas suas formas as esquerdas numa verdadeira catarse.

Para o que interessa:- não há por enquanto qualquer ameaça à ordem democrática: a democracia plena vige.- há crise política, cuja saída será democrática.- parece que o cheque-mate de FHC a Lula ("não se recandidate", no penúltimo fim-de-semana) teve resultado e encaminhamento. Não sei onde li que alguém vai apresentar uma emenda ou o que seja no sentido da proibição de "reeleição". A confirmar.- parece que esse é o ponto. Lula pode reeleger-se ainda, mas sem qualquer lastro político de governabilidade. Isso em si é um perigo para o capital (financeiro-industrial-comercial), em suma, para as condições da reprodução "normal" do modo de produção capitalista como está estruturado no Brasil. Lula não é um perigo por causa da possibilidade de "trair" o capital. Lula é um perigo por causa da sua flagrante insuficiência política. Isto já ficou totalmente claro[8].

O que fazer num momento como esse? Será que há nas esquerdas e particularmente nas extremas-esquerdas quem ache que com o atual desgaste de Lula e do PT irá assumir seu lugar ou ocupar espaço? Que essa maneira de ver as possibilidades do real seja próprio das centro-esquerdas expelidas do PT, é compreensível. Mas será que alguém que esteja no jogo atual, visando uma transformação mais profunda ainda acha que nesse inter-jogo teria algum espaço.E de fato, as aberturas que o momento que atravessamos na política institucional e sua crise são muito mais amplas.

Sempre paira a interrogação: há quem avalie seriamente ser possível conseguir alguma coisa concreta para o vasto proletariado brasileiro participando na política institucional. As "esquerdas" internas do PT conseguiram exatamente NADA de relevante e duradouro para a "cidadania" - muito ao contrário: a chamada "exclusão" aumentou drasticamente. Essa é uma constatação definitiva e transcendente. Seria possível imaginar as extremas esquerdas "conquistando" algo, na medida em que "desfrutam" de parcos "1%" ou algo mais de peso para a "governabilidade".

As lições históricas do movimento socialista radical mostram que a democracia burguesa é o terreno mais favorável para que a luta de classes vá até o fim, embora não seja o único (Marx, Lênin). É um terreno favorável para a luta proletária, mas não se trata nunca de inserir-se na democracia burguesa e fazer o jogo do "economismo" (Lênin), do "oportunismo" e "reformismo" (Rosa e Lênin). O parlamentarismo e o sindicalismo revolucionários (Marx, Lênin, Rosa) são as únicas formas de fazer uso revolucionário da democracia burguesa. A dialética entre democracia burguesa e democracia proletária, entre política burguesa e política proletária, é bem mais complexa do que uma "participação" no jogo eleitoral institucional e no estado de classes do capital podem contemplar – aliás, as formas dessa "participação", quando é o caso, o que é raro, são determinadas por aquela dialética acima (Marx, Lênin sobre parlamentarismo revolucionário).

A atual crise do PT e de Lula não é a crise de um Presidente da República e de seu partido.É, de um lado, uma crise de governo que pode, a depender dos cenários próximos, transformar-se rápida e surpreendentemente numa crise de estado. Esta seria uma dimensão política imediata dessa crise.Mas, no que toca às questões estratégicas e de princípios do marxismo revolucionário, a crise de Lula e do PT constitui uma crise com muito maior alcance. É a crise de uma política de esquerda tradicional do Século XX voltada exclusivamente para a política institucional burguesa, ou seja, é uma crise seríssima da política de esquerda voltada exclusivamente ou precipuamente para a própria democracia burguesa.

As teses que falam em "traição" de ideários originais é limitadíssima e não possibilita de modo algum a compreensão da atual crise que o PT e o seu Governo passam.

Não é possível uma compreensão profunda dessa crise a partir da tese de que se trata de uma crise de "politicismo" - mesmo porque em assim sendo ela seria uma crise "teórica", "abstrata". A noção de uma crise de "politicismo" não é apropriada, pois incorre num idealismo, como se a crise atual fosse uma crise de idéias na esquerda, ou de práticas que emanam de idéias e concepções, enfim, crise de "teorias" ou da falta delas[9].

Na verdade temos uma crise muito mais séria, pois trata-se da crise do reformismo e do oportunismo (Lênin), onde se trata antes de mais nada de projetos desta natureza mesma efetivamente implementados e muito bem sucedidos, cujo objetivo está em cooptar a própria classe trabalhadora, contribuindo para recalcá-la enquanto momento de classe em si. Trata-se, portanto, da crise de um ser, crise cuja raiz não está no seu pensar. É, portanto, uma crise dessa cooptação mesma devido à crise das condições históricas, sociais, políticas e econômicas que fizeram com que essa cooptação fosse possível durante todo esse tempo e estivesse agora prestes esgotar sua fase "ingênua".

Não é, enfim, a crise de um pensar, mas é a crise de uma corrente da esquerda tradicional que na verdade é expressão inevitável de uma possibilidade inscrita no próprio ser do modo de produção capitalista em geral (Marx, Lênin), mas também nas condições específicas de como o capitalismo se desenvolveu no Brasil.Mas é importante saber que o reformismo e o oportunismo (Lênin) continuarão existindo e até se desenvolvendo no Brasil, a despeito do seu inerente "politicismo", pelo fato de possuir uma base social concreta nas classes médias e na aristocracia operária. No entanto, seu projeto e sua capacidade de cooptar as massas no Brasil é que entra em crise. Doravante o oportunismo e o reformismo serão confrontados com a realidade concreta do que foi um governo Lula e do que foi concretamente o PT: essa é a função histórica da crise de Lula e de seu partido.Do ponto de vista político, é a hipocrisia inerente do capital e da democracia burguesa que se escancara (Engels). É a crise da tese do "socialismo prático", reformista, que no seu paroxismo exige que para se chegar a qualquer coisa de "concreto", de "palpável", para uma "conquista", ou nem que seja só para "resistir", é necessário fechar os olhos para a hipocrisia inerente à política institucional, fechar os olhos para o que os institucionalistas fazem, ou são obrigados a fazer, na política "real", na política "do possível", na política do "máximo de consciência possível".

Trata-se da crise da política "pragmática", todas elas pertencentes aos diferentes projetos de governos burgueses ancorados quer seja nas frações da burguesia ou na pequena burguesia.Mesmo em se considerando, só e humildemente, a "conquista do possível", sem qualquer anseio "revolucionário", sabemos que nada será conseguido nas condições concretas da economia brasileira no âmbito dos projetos do "economismo" e do "reformismo". Ou seja: nenhuma "renda" será distribuída, nenhuma conquista social será alcançada.Esse é um resultado fatal, inevitável quanto às metas da política reformista, que está inscrito na natureza própria do padrão de acumulação vigente. Cabe esclarecer aos navegantes do oportunismo (Lênin) que a POLÍTICA ECONÔMICA é endógena, nada mais é que uma expressão, emanação necessária e unívoca, desse mesmo padrão de acumulação. Nesse sentido não é mudando a política econômica que se muda o padrão de acumulação. E não é fácil mudar o padrão de acumulação que vige nos países periféricos desde sua inserção no modo de produção capitalista, um padrão de acumulação que tem como base a predominância da mais-valia absoluta e que compõe um todo que é tão somente a DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.
Hoje, início do milênio, não há como mudar pacificamente ou mesmo violentamente a divisão internacional do trabalho no mercado mundial. Essa mudança só pode ser resultado de uma crise catastrófica que levará à alternativa revolução ou guerra inter-imperialista. Passaremos muito em breve por essa disjuntiva, como já passamos antes (Marx, Lênin, Rosa).Temos então uma crise em desenvolvimento, ou seja, a negatividade passiva do capital.

No entanto, diante de uma negatividade como a colocada acima, onde encontrar a negatividade ativa e a positividade proletárias? Isso nos dirige então para a única possibilidade de reverter a atual situação, a atual política, que nada mais é do que a política burguesa sob a vigência plena da sua democracia. A única possibilidade de negatividade ativa e de positividade está na reemergência das massas proletárias, no caso do Brasil. Somente estas, pela sua própria força, seus próprios meios, poderão constituir um elemento novo ao adentrar de modo autônomo a arena da política e transformá-la (vide Argentina e Bolívia). Só alicerçado nas massas auto-mobilizadas e auto-organizadas será possível uma outra política e essa política tem nome: democracia proletária, ou no máximo proletário-camponesa conforme o caso.

Mas, poderia ser arguído: "e enquanto as massas não estão aí, o que fazer"?

Temos que ter uma noção de vaga revolucionária e vaga contra-revolucionária. Enquanto na vida política de Lênin tivemos um único movimento de desenvolvimento da classe para si[10], em Marx tivemos vários, ou seja, tivemos a alternância da vaga revolucionária e da vaga contra-revolucionária. Portanto, no estudo detalhado dos diferentes momentos políticos da vida de Marx é que está a lição de que precisamos para vermos essas duas situações distintas: classe em si e classe para si, existência e não existência de uma vaga revolucionária.

O caso da maré montante do movimento operário na Rússia de finais do XIX e início do XX, quando Lênin inicia sua fulgurante militância, não é de nenhum modo o caso do Brasil de hoje.

Começa a sê-lo, ainda a confirmar pela persistência, na Argentina e na Bolívia, sem que isso ainda se configure uma "vaga revolucionária", o que já em si é uma interessante hipótese de trabalho. Embora me faltem muitas informações, não acredito que já seja esse exatamente o caso da Venezuela, pois lá não existe um movimento para organização autônoma dos trabalhadores como já acontece nos outros dois países - mas preciso informar-me bem melhor.

Hoje na Argentina existe uma ampliação e aprofundamento qualitativos do movimento proletário. Dá seu arranque basicamente no movimento piqueteiro antes de 2001 e mesmo em 2002 e 2003. Agora já está abrangendo os trabalhadores assalariados dos setores de serviços públicos, os trabalhadores terceirizados da indústria e dos transportes, e, por fim, os trabalhadores "terceirizados" que alguns ainda insistem em chamar de "precarizados" - não sem uma intenção muito determinada.

O movimento na Bolívia de maio e junho passados, tivemos condições de acompanhar em detalhe na lista ESKUERRA.Desse modo, navegamos no Brasil, um momento de desespero das esquerdas reformistas, que atinge também algumas das correntes de extrema esquerda, que, no entanto, estão muito voltadas para a política institucional, aquelas mesmas que vivem de modo direto ou indireto orbitando na lógica específica das lutas institucionais, e que para elas voltam suas críticas, como que na contra-tendência do reformismo. Falta a essas esquerdas o elemento autofundante essencial: as massas proletárias em movimento.

Não existe outra forma de fazer política proletária que não seja aquela que se faz junto, com e no interior da classe proletária.Isso vemos em Marx, Engels, Lênin, Rosa e Trotsky. Se não é com a classe, no interior da classe, pela própria classe, como fizeram Lênin, Marx, Rosa que tipo de política concreta há para se fazer? Lutar com o quê, se não for com a força da própria classe em movimento. Os clássicos do marxismo revolucionário não tinham qualquer outra política que não fosse essa (veja-se as biografias políticas de Marx, Engels, Rosa, Lênin, Trotsky).

Mas há um problema sério em lidar com a "classe" que não pode ser nunca esquecido. Não se trata de qualquer "obreirismo" ou política de acordo com a "consciência possível", o que é no fundo a mesma coisa, obreirismo, ou seja, a faceta crítico-intelectualizada da política obreirista. A classe deve estar já em movimento próprio e não num movimento qualquer que não seja gerido por si mesma autonomamente.

Em suma, a classe, para que seja base para uma política organizacional, não pode estar em movimento a reboque da burguesia ou da pequena-burguesia (e talvez seja essa uma hipótese interessante para qualificar o caso venezuelano e sua revolução bolivariana). A classe, através dos seus setores avançados, já deve estar constituindo-se em "classe para si", em movimento autônomo. Essa qualidade presente no movimento proletário não tem nada de subjetivo ou relativo. Essa qualidade de classe para si é apreensível empiricamente a partir da avaliação dos movimentos sociais concretos, suas consignas, suas tendências manifestas. Ao fazermos essa avaliação dos movimentos sociais com base no proletariado brasileiro, não há como encontrar ainda sinais amplos e inequívocos de uma classe constituindo-se em classe para si. Essa é nossa situação e deve ser o primeiro elemento real para aferirmos a "correlação de forças".

Essa situação de ausência total do proletariado como classe para si no Brasil irá se perpertuar?

Sabemos que não, pois esta possibilidade está inscrita na própria natureza social e econômica do modo de produção capitalista, mais ainda quando observamos a natureza de seu desenvolvimento e reprodução atual no Brasil que depende de um exército industrial de reserva (proletário) cada vez maior.

Essa inflexão na consciência de classe, que torna-se de classe em si em classe para si, já pode ser perceptível no horizonte relevante?
Sim.

Como?
Não é tomando a realidade proletária como uma fotografia que se vai percebê-la, mas vendo a classe na sua dialética própria, em função da dialética própria da sua reemergência como ser social para si. É assim que é possível fazer uma avaliação específica das condições gerais do capital, dos seus cenários. Temos que ter como base a tese geral do marxismo revolucionário de que só uma crise do capital que se aprofunda e que se amplia pode colocar em movimento o proletariado como classe para si e, como dizia Lênin, possibilitando que a partir daí haja a produção de suas organizações de luta, de seu programa concreto e de suas lutas próprias.

Aí é possível fazer "alianças", praticar o parlamentarismo e o sindicalismo revolucionário, etc. Em suma, aí é possível fazer política, pois a classe tem seus líderes, suas organizações e sua massa mobilizada para lutar.

Economia - A análise da situação econômica global, continental e nacional abrem perspectivas bastante interessantes para que essa reemergência autônoma do vasto proletariado brasileiro possa ocorrer no nosso horizonte relevante.Política - A análise das condições políticas da burguesia e da pequena burguesia também apontam, como as das condições econômicas, para uma acelerada deterioração.
Base social - A análise das condições sociais em que se encontra o proletariado, com um Exército Industrial de Reserva que só faz crescer nas regiões metropolitanas, com uma proletarização massiva, também aponta para uma maturação vertiginosa em prol da eclosão de movimentos sociais proletários, dentre eles o movimento operário.

Desse modo, tanto no econômico, como no social e no político, a era da emergência de uma nova política, uma política proletária genuína, que sempre foi uma possibilidade, é agora um cenário com probabilidade crescente.

Vai acontecer?
Vai.
De que modo?
Certamente não será ainda a inauguração de uma vaga revolucionária, mas poderá significar uma inflexão - já falamos disso várias vezes.

Quando?
Vários cenários se abrem com base no estalo e no desenvolvimento da próxima crise cíclica. Se pensarmos nas dificuldades crescentes para a reprodução ampliada do capital social global, a deterioração crescente das condições de vida e trabalho do proletariado no Brasil já nos oferece um quadro bastante alvissareiro. Se adicionarmos os choques dos retornos das crises cíclicas, cujas hipóteses de agravamento se reforçam a cada dia, o quadro para uma inflexão melhoram mais ainda. Mas nestas especificações do "como" e do "quando", trata-se sempre de hipóteses e cenários quando falamos em movimento das massas proletárias no Brasil. Não consigo ir além de uma abertura de cenários muito plausíveis.

Observação en passant: ainda está por se compreender, no que tange à natureza do proletariado no Brasil, porque o marxismo revolucionário aqui embarcou tão fácil, tanto no espírito como na letra, nas teses correntes da "reestruturação produtiva" e da "precarização", que só podem levar diretamente a uma debilitação e desqualificação definitiva do proletariado como agente revolucionário. O impressionante é que a própria realidade desmente de modo flagrante as constatações anti-revolucionárias dessas teorizações.

Outras teses igualmente problemáticas do ponto de vista do marxismo revolucionário (globalização, mundialização, financeirização, decadência, das insuficiências das políticas neoliberais etc...) também estão presentes na grande maioria das análises e demonstrações das correntes revolucionárias. Nunca um trabalho teórico intenso foi tão necessário para avaliar criticamente toda essa produção teórica do reformismo que, no entanto, está presente na subjetividade das correntes revolucionárias no Brasil. Esse trabalho teórico só pode ter um sentido: restaurar a integralidade das teorias de Marx e Lênin como totalmente válidas para as lutas a vir do proletariado latino-americano. Claro que só o campo do marxismo revolucionário será capaz de uma tal empreitada teórica, a qual não consiste num esforço lógico e teórico das esquerdas em geral - é antes de mais nada uma tarefa que só pode ser implementada a partir de uma perspectiva política determinada, a da revolução proletária (Marx, Engels, Lênin, Rosa, Trotsky).

Notas

(*) Devo ao companheiro Scapi a inspiração para um diagrama acima que tenta expressar todo esse processo.
[1] O OLHO DO FURACÃO (impressões iniciais Jornadas de Julho do '13', em julho de 2005)
[2] Foi distribuído um texto rápido com o título "A Função Histórica da Crise de Lula e do PT". Abaixo vai uma 2a versão, feita na noite de 10 de julho de 2005, depois das intensas discussões com os participantes das JORNADAS DE JULHO do “13” (9 e 10 de Julho de 2005).
[3] Vide GeoReference 06 de 2003, antigo texto do site, agora desativado, www.geoeconomia.net.
[4] D1, departamento produtor de meios de produção; D2, departamento produtor de bens salário; D3, departamento produtor de bens de luxo.
[5] Para ver como essa cenarização evoluiu, há anotações e notas de comentários atuais à uma antiga discussão a respeito que podem ser consultadas em http://demopro.blogspot.com/2009/01/o-novo-e-o-mesmo-na-luta-de-classes-no.html.
[6] Anotação de 01 de Janeiro de 2008. Hoje nossa visão é a de que o estado venezuelano, assim como seu governo bolivariano, estão com imensas dificuldades para fazer avançar o processo de proletarização. O resultado do Plebiscito foi um sintoma dessa dificuldade. A crise cíclica irá colher o governo bolivariano na Venezuela com um déficit determinante de avanços nessa área.
[7] primeira versão em http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/27959
[8] Anotação de 01 de Janeiro de 2005. Vimos que esse cenário não se confirmou, aliás, ao contrário: o resultado das eleições e o grau de governabilidade do segundo governo Lula estão sendo superiores aos do primeiro governo, pelo menos até o início de 2009. Essa cenarização contingente não prejudica em nada a análise que se segue no texto.
[9] ver texto de Sérgio Lessa "Crítica ao Praticismo 'Revolucionário' ", algumas mensagens acima - http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/27906.
[10] Anotação de 01 de Janeiro de 2009. Esse continuum de uma vaga proletária na Rússia, que assumimos em 2005 como dado, após várias investigações, hoje não está mais tão assente. O período após a chamada “Revolução de 1905 foi de recuo total, de esfacelamento do movimento operário e de um desaparecimento virtual do POSDR para quaisquer efeitos práticos e mesmo formais – vide Lênin, trabalhos da época.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

- O NOVO e o MESMO na Luta de Classes no Brasil


A CRISE CÍCLICA GLOBAL trará a inflexão proletária?

Ivan J., 27Set05

Sumário

Anotação de 01 de Janeiro de 2008
Apresentação
Socialismo pequeno burguês e o movimento nas formas
Dialética das determinações econômicas
Cenários e dialética da reemergência da classe
O reformismo buscando horizontes: geopolítica do capital
O realmente novo na América Latina

***

Anotação de 01 de Janeiro de 2008

Hoje, 01 de Janeiro de 2008, é possível fazer um balanço desses cenários apresentados em 27 de Setembro de 2005. Democracia Proletária chama atenção para a nota “2” mais adiante.


Apresentação


Ontem as 'esquerdas democrático-institucionais' começaram um grande movimento de realocação partidária. A atmosfera de 'frescor' está no ar, talvez acompanhando a chegada da primavera. Já conversamos exaustivamente sobre isso nas Jornadas de Julho do “13”. Agora temos o "Novo" que se quer novo, mas não é.
O Novo realmente ainda está por vir, virá!
Socialismo pequeno burguês e o movimento nas formas

O que é realmente NOVO na política brasileira?[1]
No momento a NOVIDADE ainda reside no terreno das potencialidades.
Tudo o que está acontecendo no terreno da política institucional já é história conhecida, uma reiteração do mesmo vivido nos últimos 25 anos. O NOVO está por vir, e virá, ...talvez em breve!

O mesmo dentro das formas


Esta semana iniciou-se com uma frenética realocação das forças da esquerda institucional. Uma realocação tardia, mas que traz uma aura fresh, revigorante, esperançosa. Será que esta movimentação é a emergência do NOVO na política brasileira?
Por outro lado, Katrina, Rita, Petróleo... nada disso realmente importa!

Enquanto no Brasil ficamos olhando a crise da política institucional, na total ausência AINDA da política verdadeira, da política de classe, enquanto no Mundo só se fala em Iraque, Tsunâmis, Katrinas, Ritas, o essencial que irá trazer as condições para a emergência do NOVO vai passando ao largo das atenções, mas vai amadurecendo e desabará como uma tempestade que não tem mais para onde ir: o retorno da CRISE CÍCLICA!

Dialética das determinações econômicas

Os analistas revolucionários nas duas primeiras décadas do Século XX acompanhavam no pormenor o curso da economia, seus movimentos cíclicos e suas recuperações e mergulhos. Todo o arcabouço teórico destes analistas era rente às formulações de Marx. Lênin tinha um acompanhamento sistemático, pois ciclo e correlação de forças andam juntos numa dialética bem estreita.

Portanto, para quem conhece o ABC do marxismo revolucionário, a questão verdadeira só pode estar bem além das diatribes da conjuntura das formas! Não está na superfície dos eventos.
Aqueles que navegam na superfície e observam só a superfície, se assustam quando vêem uma marolinha, ou não...; é o reino da loucura, é o reino das formas pelas formas, é o reino dos analistas e também, por incrível que pareça, o dos que dão de ombros para a realidade econômica e para os movimentos da economia, por negligência, despreparo ou erro de avaliação.
No entanto, às vezes uma marolinha é a precursora de um big Tsunâmi! Como saber?

Os presidentes dos Bancos centrais europeus e asiáticos, além do próprio FED, já anunciaram que o final deste ano será extremamente problemático, os desequilíbrios nos fluxos globais são imensos e crescentes! Europa e Japão já anunciaram que já estão parando. USA idem. Óbvio que olham para o petróleo e para os derivativos. China desacelera e se desequilibra enormemente. Os movimentos recentes nos preços do ouro escondem tendências que não têm nada de especulativas. Diz um experiente analista destes mercados 'dourados': "há uma crise ainda escondida aí"! Os analistas internacionais estão já suando frio, pois não há perspectiva de reequilíbrio, na verdade as notícias apontam para o inverso.

Tudo isso evidentemente ainda não é a crise, é apenas a vertigem, o pavor diante de uma febre que não cede e que agora começa a aumentar num ritmo desconhecido, portanto assustador.

Para o marxismo revolucionário Mister Velha Toupeira silenciosamente e nas profundezas está solapando as bases, os fundamentos da valorização do capital mundial. Recentemente a composição orgânica cresceu a um ritmo explosivo, particularmente nos últimos 15 anos. Depois dessa recuperação que está no fim, agora terá que sobrevir a crise cíclica que, ao que tudo indica, será muito mais grave do que a anterior em 2001.

Cenários e dialética da reemergência da classe

O impacto na economia brasileira será enorme ao que tudo indica. Vamos ver, no entanto, se o social também estremece e libera finalmente energias sócio-políticas mais auto-construtivas no vasto proletariado urbano brasileiro.

Importante frisar, mais uma vez, pela enésima: não se trata da previsão da REVOLUÇÃO! Trata-se de uma inflexão na condição da classe proletária em que de classe em si, para o capital, inicia um "salto quântico" para começar a emergir como classe para si. Esta inflexão viabiliza a militância revolucionária junto à classe proletária.

Na ESKUERRA e em outros espaços temos trazido alguns insights a respeito de como o proletariado brasileiro irá emergir[2]. Tudo indica que será inicialmente a partir das franjas urbanas mais exteriores, das periferias, do Exército Industrial de Reserva. Os desafios para a militância revolucionária serão enormes, porém o ambiente será mais e mais favorável. A organização espacial e comunitária do proletariado será o fenômeno mais importante nesta dinâmica. Estruturação de toda a classe em organismos locais e regionais é espontânea e inevitável.

O proletariado do setor de serviços, comércio e transportes urbanos serão especialmente atingidos deflagrando movimentos que se espalharão rapidamente, mas que encontrarão suas trincheiras nas periferias das grandes cidades.

Se esse insight é correto, então depois, sem que se possa saber em qual intervalo, será o Exército Industrial de Empregados da Indústria quem virá para o movimento - e este é o momento crucial e que alavanca definitivamente o proletariado como classe revolucionária. Esta vinda será marcada inicialmente por ocupações de fábricas e posteriormente por uma intensa luta para reconquista dos sindicatos.

Este cenário preocupa-se fundamentalmente com o fator decisivo das lutas sociais que está ausente deste momento: o proletariado urbano e o operariado industrial em particular. Este é um processo que certamente levará anos para realizar-se. O problema agora é a percepção dos fatores que possibilitarão o seu início, a inflexão da realidade corrente para uma outra realidade, com outra dinâmica.

O reformismo buscando horizontes: geopolítica do capital

Nossa expectativa de um retorno da crise cíclica, mais grave, para final de 2005 e decorrer de 2006, pode ser a última sincronia dos cronômetros. Nesse sentido o que está em jogo é vital. Talvez tenhamos a partir dessa crise condições mais objetivas de visualizar os cenários que nos levarão direto à disjuntiva final para a Humanidade: Guerra ou Revolução!

A geopolítica da classe trabalhadora na América Latina evidenciou-se de modo claro nas últimas emergências na Argentina e Bolívia. Ficaram claras as dinâmicas e as forças com alcance geopolítico que irão se digladiar no campo das esquerdas. O reformismo na América Latina tem endereço certo. Os núcleos e forças revolucionárias do proletariado também. No Brasil, a crise política institucional está provocando um deslocamento no reformismo que terá que preparar sua reciclagem. O próprio reformismo irá se surpreender com sua recuperação: não serão necessários mais 20 anos para fazer seu retorno. O reformismo irá tentar reapresentar-se como o 'novo' na política nacional. Sabemos que não se trata do novo, pois Lula e o PT já expuseram todo o ciclo histórico do reformismo numa economia como a nossa. Agora é repetir, repisar, trilhar os mesmos destinos.

O realmente novo na América Latina

O realmente novo que a política nos reserva está na emergência do socialismo revolucionário como fenômeno social e político expressando o proletariado revolucionário. No momento o socialismo revolucionário ainda tem a mesma característica órfã de classe que caracterizou o período do pós-guerra, com raríssimos e localizados momentos de emergência da classe. É esta novidade a que se apresenta como possibilidade e alta probabilidade para um futuro próximo, a depender de como se dará o retorno da crise cíclica.

Quando olhamos o todo global, a América Latina, um continente essencialmente proletário, aparece como crucial para a abertura de uma vaga revolucionária mundial. Na América Latina o Brasil é crucial; no Brasil a Grande São Paulo é crucial; uma GSP que talvez, para efeitos das lutas sociais seja bem maior que a oficial, envolvendo a grande Campinas, a Região de Sorocaba, Baixada, Vale do Paraíba. É uma massa proletária gigantesca. Esta crise caso venha bem forte irá evidenciar as forças-chave das agudas lutas de classes que vão se precipitar em nossa sociedade muito em breve.

Uma nova história política radicalmente diferente da atual está para começar. Talvez o seu timing demarre bem agora se a crise cíclica realmente se abater como está se anunciado.
Expectativas, expectativas...

Notas

[1] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/29884

[2] Nota de 01Jan08 – durante 2006 os cenários para a reemergência da classe proletária brasileira foram mais precisados. O final de 2005 e os três primeiros trimestre de 2006 ainda trouxeram uma recuparação econômica global e principalmente no Brasil. A crise só iria iniciar-se nos USA a partir do final de 2006 e início de 2007. Na economia brasileira a crise iniciou-se a partir de outubro de 2008. Por outro lado, a dialética interna da remeergência do proletariado, nesse mesmo período, mostrou que a vanguarda da classe irá emergir mesmo no movimento operário da indústria de ponta; aí que constituir-se-á em núcleo duro do proletariado brasileiro em geral; desta base social específica irá emergir a organização política do operariado, o partido operário.