sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

- HAMAS - Vitória estratégica 23Jan2009

APRESENTAÇÃO

Em termos de filosofia militar o mundo tem dado algumas reviravoltas.

Sun Tzu, Sun Bin, Clausewitz, Trotsky, Liddel Hart, Giap e tantos outros gênios da arte militar hoje certamente se reviram nos túmulos ao ver as façanhas da guerra defensiva fixa, contra forças imensamente superiores em meios, ou seja, numa guerra francamente assimétrica. A doutrina mais aceita até agora é a de que a guerra assimétrica favorece o lado mais fraco quando este adota uma estratégia de guerra de movimento.

O que os franceses não conseguiram com a Linha Maginot contra a Blitzkrieg alemã, o que os alemães não conseguiram com as fortificações no Canal da Mancha contra os aliados, HEZBOLLAH e HAMAS conseguiram: submeteram derrota às forças de ataque que dispunham de guerra de movimento.

Por outro lado, conhecemos as proverbiais façanhas de quem é submetido a sítio prolongado. Talvez não seja esse o caso das Guerras Israel-HEZBOLLAH (2006) e Israel-HAMAS (2008).

Há necessidade de estudo, investigação e reflexão a respeito. As implicações para a luta de classes são imensas, transcendentais.


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GUERRA ISRAEL-HAMAS (2008)

Encerradas as atividades militares - ainda que com fragilidades e cuidados - já é possível emitir uma avaliação geral do conflito.

Foi o "plus" que tanto era aguardado em termos de guerra assimétrica.

Vitória total da guerra defensiva empreendida pelo HAMAS e pelo povo de Gaza.

Finalmente encontraram a "fórmula"; romperam o isolamento e fizeram uma guerra com toda a arte necessária, brilhante.

Gaza é hoje efetivamente uma plataforma militar instalada ao Sul contra Israel.

Dos objetivos da IDF, nenhum foi alcançado, absolutamente nenhum.

Mais que isso, todos os trunfos militares, novos, foram expostos à "visitação pública", ou seja, à observação atenta dos analistas e estrategistas militares! Phosphoforo, novas blindagens, bombas com urânio rebaixado e etc...

Está MAIS UMA VEZ provado: a superioridade aérea da IAF foi totalmente neutralizada numa guerra defensiva (2006 Hezbollah, 2008/9Hamas).

Por outro lado, o HAMAS, tudo indica, não expôs tudo o que tinha e que é! Assim como em 2006 o HAMAS.

Do ponto de vista internacional foi um desastre para Israel.

Seus ministros são literalmente caçados por toda a Europa onde há processos já abertos contra crimes de guerra praticados e totalmente documentados.

O HAMAS agora tem como objetivo rearmar-se - fará, não há como impedir. A fronteira com o Egito é porosa aos elementos de guerra que o HAMAS usa, e para outros que certamente irá usar em combates futuros.

O ponto futuro provável é uma nova guerra, ao norte e ao sul.

Talvez antes ou depois tenhamos um teste na Cisjordânia! Na Cisjordânia ainda é necessário "resolver" a questão do poder palestino. Creio que a Fatah não suporte mais muito tempo - o golpe à sua "autoridade" foi brutal. Sabemos que a fórmula dos USA, UE e Israel era viabilizar ABBAS em Gaza - agora, e creio que seja bem provável, percam a Cisjordânia!

Consta que o HAMAS perdeu 90 milicianos.

Do ponto de vista militar: muitíssimo bom! O HAMAS militarmente está intacto. Também seus "estoques" de mísseis saiu intacto dessa guerra - e com sobras.

A resistência por terra que o HAMAS ofereceu à IDF foi eficientíssima - a experiência também foi válida para a aquisição de "aprimoramentos" futuros por parte do HAMAS.

Por tudo e por todos, houve uma transição qualitativa brutal: da Intifada à Guerra Defensiva!

Assim como em 2006 no Líbano a guerra defensiva constitui-se na grande ameaça que Israel tem em suas fronteiras imediatas ao norte e ao sul - quem estuda a arte da guerra, a história das guerras, constata facilmente que a posição defensiva é superior à posição ofensiva, pois ela possibilita, e consagra, a superioridade da guerra defensiva.

O MARTÍRIO CIVIL

Incontáveis histórias de tragédias de comunidades inteiras, famílias e pessoas.
Tudo documentado à exaustão.

Muitos PULITZERs serão ganhos com as reportagens sobreos dramas da população de GAZA.

Assisti uma matéria ontem, pela BBC. Um reporter estava no Egito onde uma menina (uns 5 ou 6 anos) estava numa cama de hospital, cercada de todo carinho, pelúcias e etc. O rosto angelical mal compreendia a atenção. Na verdade era vítima dos bombardeios de GAZA sem identificação alguma que sobreviveu milagrosamente. Perdeu o movimento das pernas, mas não sabia ainda. O reporter pegou a foto dela no leito do hospital e foi a GAZA procurando de canto em canto quem a conhecia. Por fim encontrou um grupo de homens e mulheres num conjunto de quarteirões totalmente destruídos pelos bombardeios. Reconheceram a menina e em seguida acharam então o pai que estava vivo. A família fora toda morta, esposa, filhas e ele não encontrara ocorpo daquela menina. Identificou a filha pela foto e teve também a notícia da sua invalidez permanente. O momento, registrado, é que ainda lhe restou lágrimas...

O número de vítimas civis, paralizada a fase militar, continua crescendo na média diária, na medida em que os escombros vão sendo escrutinados.

Mas, sabemos, que o HAMAS desde agora, assim como o HEZBOLLAH desde 2006, não estão empenhados numa estratégia gandhiana de autoimolação e resistência pacífica procurando sensibilizar e desgastar o inimigo - não que tal estratégia seja inevitavelmente fadada ao insucesso. Apenas fica manifesto que não é a estratatégia do HAMAS e do HEZBOLLAH.

QUANDO OS ESTRATEGISTAS DO TERROR TORNAM-SE ATERRORIZADOS

Aos estrategistas israelenses restava contar com o efeito do TERROR para vergar a resistência do povo de GAZA! E realmente transformaram GAZA num inferno de phosphoro e de urânio rebaixado devidamente televisado.

A infantaria israelense, onde pôde, também massacrou mulheres, crianças e homens desarmados.

A estratégia do TERROR foi só o que restou a Israel, foi implementada e, ainda aí, os estrategistas e demais lideranças israelenses foram derrotados fragorosamente - o feitiço que se voltou totalmente contra o feiticeiro.

A situação é absolutamente aterrorizante, mas para Israel. Porque? Porque não há a esperança de que tenha ocorrido uma falha, um erro na implementação da estratégia. Não houve inabilidade na estratégia do terror implementada por Israel. O fato é que o HAMAS, o povo de GAZA estavam perfeitamente conscientes do que as IDF iriam fazer, não havia e não há ilusões.

Mas o terror estratégico não é um sofrimento apenas israelense. Os governos árabes que dão sustenção à geopolítica norte-americana na região e, por consequência, à geopolítica e ao militarismo israelense,viram-se desde 2006, com a façanha do HEZBOLLAH, diante de problemas indizíveis tanto interna com externamente. Agora, com a façanha do HAMAS, têm uma batata quente nas mãos que está incinerando sua posição. Para eles, que sempre estiveram coligados hipocritamente no "pragmatismo egípcio", nas suas razões de estado, agora resta contabilizar o prejuízo: o Irã, e seus aliados, estão fortificados com muita competência ao norte e ao sul de Israel.

CONCLUSÃO

Não há saída... apenas um cronômetro com seu próprio tic-tac! Israel, e seus aliados, vivem o que chamamos de inferno estratégico... muito provavelmente sem retorno!

Democracia Proletária está providenciando um estudo conclusivo sobre a atual Guerra Israel-HAMAS que envolve também a Guerra Israel-HESBOLLAH e os cenários conexos.

Muito aprendizado, muita cenarização para a geoestratégia global e, claro, muitas muitas lições para a luta de classes...

Em breve Democracia Proletária publicará esse estudo:
- no BLOG http://www.demopro.blogspot.com/
- e na PÁGINA http://sites.google.com/site/democraciaproletaria/

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