quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

- Israel-Hamas 08 de Janeiro 2009

Ivan J. 06-08 de Janeiro de 2009

I - Israel-Palestina e o Proletariado (06Jan09)
- Questão da Palestina, Questão Arquetípica
- O Muro de Berlim: desmonte surpreendente de um arquétipo
- Tese Geral
- A Tese Geral sobre a Questão do Oriente Médio e o Proletariado da Região
- Correlação de Forças, a mistificação da tese do "neocolonialismo" e nossa práxis
- As outras classes e as ações conjunbtas

II - Israel-Hamas - Questão Militar - Cenários ainda abertos (06Jan09)
- Introdução
- Hamas
- IAF e IDF
- Conclusão

III - Israel-Hamas – os objetivos estão vindo à tona (08Jan09)
- Introdução
- Estratégia e Grande Estratégia
- Disciplina estratégica
- A hipótese do Grande Islam
- A opinião pública internacional
- As limitações da estratégia israelense
- Hamas e uma estratégia consistente
- Hamas, uma guerra popular
- Conclusão

o O o

I - Israel-Palestina e o Proletariado (06Jan09)

- Questão Palestina, Questão Arquetípica

A questão da Palestina[1] é uma das questões arquetípicas do nosso tempo - está aí desde bem antes de nossa geração, a milênios, é mundial e quotidiana, faz parte do nosso "inconsciente coletivo", ou seja, dormimos e acordamos com ela, ou seja, ela é uma de nossas referências fundamentais.
Temos vários desses elementos arquetípicos, p.ex., a GM, a VW, o Dólar, as nações... etc.
Outra era a do, assim chamado, "socialismo real" ou a do "Muro de Berlim".

- O MURO DE BERLIM: desmonte surpreendente de um arquétipo

Algumas correntes nos anos 70 e 80, e eu inclusive, achávamos na época que não haveria solução histórica para o socialismo real e para o "Muro" no modo de produção capitalista, somente no socialismo, ou seja, só o proletariado revolucionário internacional poderia derrubar o Muro e resolver essa "questão" de um Muro dividindo a Humanidade entre dois mundos: o do capitalismo ocidental e o do "socialismo real" (para todos efeitos, capitalismo de estado); só na superação do MPC o Muro seria derrubado.

Problemão: houve solução no modo de produção capitalista! Ou seja, o modo de produção capitalista, impessoalmente, exterminou, e espero que para todo o sempre, o "socialismo real", assim como derrubou o Muro de Berlim!

Assim, como "tudo é divino e maravilhoso", tudo é também muito complicado: o proletariado como classe para si NÃO entrou autonomamente na história desses eventos, tendo por base sua auto-organização, seu programa histórico de classe e etc. O proletariado, no amálgama de "movimentos populares" da época apenas veio totalmente a reboque, dando o efeito de massa àqueles episódios!

- Tese geral

A lição teórico-histórica foi devidamente aprendida? Não há como saber de antemão, só colocando em teste novamente o novo modelo de análise, modelo de ver a realidade e sua dialética insuperável.

A chamada Questão da Palestina, claro, desde que não abordada formalmente com base nos "direitos", ou com base no Humanismo moral e ético e etc..., configura um excelente teste; a abordagem da classe é histórica e com base nas condições e objetivos de sua atuação concreta nela!

Arrisco-me hoje a dizer que no modo de produção capitalista não há solução para a Questão da Palestina!

A geopolítica e a geoeconomia estão armadas de tal maneira naquela região que a solução capitalista não emergirá; como emergiu no caso do Muro e do assim chamado Socialismo Real, ou seja, daquela forma superestrutural contingente de capitalismo de estado onde predomina a mais-valia absoluta. A queda do Muro de Berlim era algo possível no modo de produção capitalista, e ele teve uma solução histórica: o Muro não mais se reergueu!

- A Tese Geral sobre a Questão do Oriente Médio e o Proletariado da Região

Só quando o proletariado revolucionário de Israel tomar o poder em Israel, apresentar e impor o seu programa para toda a área do Oriente Médio, é que teremos uma solução para a área. As circunstâncias gerais que farão o proletariado revolucionário de Israel conquistar o poder, trata-se de uma outra questão!

CORRELAÇÃO DE FORCAS, a mistificação da tese do "neocolonialismo" E NOSSA PRÁXIS
Somos, claro, pela autodeterminação dos povos. Por isso somos anti-colonialistas; e anti-imperialistas quando o imperialismo adota práticas de colonialismo direto - o que não é qualquer retrocesso, mas muito ao contrário: o imperialismo pode, dentro do seu ser e da sua lógica, tornar-se colonialista na sua prática com territórios por ele dominado (isso é patente em Lênin); a tese, que aliás anda por aí na INTERNET, de um "retrocesso colonialista", inclusive na América Latina, é totalmente mistificadora e reacionária! O imperialismo não exclui de forma alguma as práticas colonialistas de dominação!

O Oriente Médio e a Questão da Palestina são terreno hiper-pantanoso na política internacional. Todos, absolutamente todos os interesses imperialistas globais atuam nesse imbróglio. A coisa mais fácil é se adentrar essa cena política e acabar sendo arrastado como massa de manobra para interesses que sempre são contra os interesses estratégicos e mesmo táticos do proletariado. O mais importante é termos uma análise própria, que só pode ver a partir de uma consciência própria do que está envolvido e determinando aquela situação histórica. Só com base nisso é que poderemos ter uma atuação crítica e efetiva na Questão da Palestina e nesse episódio em particular.

Por princípio, a classe sempre procurará se solidarizar com o povo da Palestina com todos os recursos possíveis. Mas apoiar-se nesse princípio para evitar uma análise profunda a situação e buscar uma atuação autônoma é um dos maiores erros que poderíamos cometer contra o povo palestino e contra nós mesmos.

Por outro lado, não temos que fantasiar nada; não temos praticamente recurso prático algum que tenha relevância dada a correlação de forças extremamente desfavorável para o proletariado hoje. O máximo que podemos fazer é atuar no âmbito pantanoso da "opinião pública" e através disso influenciarmos o modo como o próprio sistema encontrará um "band-aid" emergencial para mais esse episódio trágico para o povo palestino e para o proletariado internacional.

Porém, sabemos que nada disso significa uma solução e que não se conseguirá de modo algum evitar novas e piores catástrofes para o povo palestino.

- As outras classes e as ações conjuntas

Como reagem as classes médias? Do seu modo, impotente e mistificador por natureza.
Do ponto de vista emergencial, até por instinto de classe, o proletariado tem o impulso de demonstrar em termos práticos a nossa solidariedade. Inclusive onde houver negócios comerciais e outros entre estados, governos, empresas e etc com Israel, SE TIVERMOS CAPACIDADE EFETIVA. Manifestações e etc. Porém, no quadro atual, essa providência ainda tem que provar sua eficácia concreta.

O mais importante é aproveitar os terríveis episódios e nossa atuação nele enquanto classe para colocar elementos para o aprofundamento da consciência da classe; aproveitarmos para nos delimitarmos claramente em relação a como as outras classes se posicionam a esse respeito; atuar conjuntamente com as outras classes e setores da sociedade na solidariedade ao povo palestino, onde for o caso; mas em todas as manifestações o desafio será deixar bem clara a posição de classe, a denúncia das políticas dos governos e dos estados capitalistas, a denúncia da mistificação das classes médias e etc.

Não consigo aferir onde isto de fato esteja acontecendo.
Do ponto de vista estratégico efetivo, o melhor que podemos fazer pelo povo da Palestina seria aumentar o cacife do proletariado em nossos respectivos países como classe autônoma (Manifesto, o proletariado deve em primeiro lugar combater a burguesia de seu próprio país)!
Um bom início para avaliarmos as perspectivas estratégicas para a superação da Questão da Palestina reside em avaliarmos a eficácia das nossas estratégias que têm como objetivo nos fortalecermos para enfrentar nossas próprias burguesias e nossos próprios estados opressores de classe.

Arrisco-me a dizer que a Questão da Palestina não tem mesmo qualquer solução histórica no modo de produção capitalista. Se isso for verdade, o que podemos esperar é uma terrível sucessão de massacres do Povo Palestino perpetrados pelo estado israelense, num futuro próximo uma possível guerra geral na região e etc. O que nunca trará solução definitiva para a Região.

II - Israel-Hamas - Questão Militar - Cenários ainda abertos (06Jan09)


- Introdução

A configuração militar[2] desta invasão da Palestina pelas forças israelenses parece ser completamente diferente da Guerra Israel-Hezbollah.

Ao que tudo indica, no sul do Líbano o confronto real entre a infantaria israelense e o Hezbollah se deu em terreno rural. Ao que tudo indica na Faixa de Gaza o confronto principal se dará em área urbana. Ao que tudo indica a iniciativa contingente pertenceu ao Hamas, assim como a da guerra anterior pertenceu ao Hezbollah. Ao que tudo indica, após a primeira fase protocolar de intensos bombardeios aéreos e destruição da infra-estrutura, as ações militares por terra ainda estão "soft" - isso pode denotar uma certa cautela por parte das forças israelenses.
Hamas

Algumas conjecturas são possíveis:

a) será que o Hamas ao atrair as forças israelenses para dentro do seu território e para dentro de suas cidades está implementando uma armadilha estratégica? Para isso o Hamas teria que ter preparado todo um dispositivo hiper-eficiente de guerra urbana, combinando uma estrutura de bunkers e de grupos de excelência em guerrilha urbana; claro que o objetivo seria impor uma perda humana insuportável para Israel e com isso uma nova desmoralização; para tanto, o Hamas deveria dispor de armamento anti-tanque e de tropas que pudessem combater de igual para igual a infantaria israelense; nesse caso a ofensiva contingente do Hamas se configuraria como iniciativa estratégica; as forças israelenses estariam entrando num atoleiro insuportável;

b) será que o que moveu o Hamas foi simplesmente a asfixia imposta pelo "sitio" israelense? Se assim foi, a iniciativa contingente pode ter sido do Hamas, mas a iniciativa estratégica continuaria sendo de Israel; a única chance do Hamas é que as pressões internacionais interrompam a ofensiva israelense antes que ela realize seus objetivos.

- IAF e IDF

Por outro lado, a ação de Israel pode ser a combinação de vários vetores:

a) estamos em meio a uma disputa interna de poder e a questão da Palestina é um dos elementos fundamentais; ao que tudo indica os ministros hegemônicos no atual esquema de poder, sendo candidatos, estão muito baixo nas pesquisas de opinião;

b) a ofensiva israelense na Faixa de Gaza poderia ser um movimento preparatório para uma ofensiva em outro teatro, como o do Líbano ou o da Síria, ou mesmo no Irã;

c) por outro lado, a atual ofensiva pode ser um expediente necessário para adentrar o período do novo governo norte-americano com um fato consumado; sabemos que a linha internacional do futuro governo é ditada por Brzezinski e para ele trata-se de ganhar espaço de manobra nesses "conflitos menores" para jogar tudo no "conflito maior"; onde ele puder negociar para tirar pressão em cenários secundários ele o fará; a Palestina é um cenário secundário; o cenário principal é o do Leste Europeu, o do Cáucaso e o da Ásia Central; o grupo de Brzezinski é francamente favorável a uma negociação com o Irã; para Israel essa é uma solução impensável; Israel não quer de modo algum ser um peão no jogo "maior" da geopolítica americana; a idéia seria "tornar-se" novamente o "maior" problema dos USA e o momento para providenciar esse posicionamento estratégico é agora, e talvez já com algum atraso.

- Conclusão

Temos que monitorar o desenrolar dos eventos para vermos o que eles confirmam, o que eles revelam de novo e para onde eles apontam.

III - Israel-Hamas – os objetivos estão vindo à tona (08Jan09)

- Introdução

As formas da guerra são estridentes[3]! As formas nos envolvem, envolvem nosso coração pois há sangue envolvido.
Mas sim, tudo indica que os objetivos estratégicos dos envolvidos, estão vindo à tona.
Vamos explorar nessa análise a performance do Hamas e algumas hipóteses a respeito que estão vindo à tona.
De início estamos assistindo a um magnífico exercício de disciplina estratégica!
Ponto que pode ser fundamental: Israel afirmou hoje que não quer que Gaza se transforme num enclave iraniano!
É fato! ....?

- Estratégia e Grande Estratégia

Podemos estar constatando isso pelo alcance bem expandido dos foguetes lançados pelo Hamas:

a) estava em 6 km - o alcance histórico, com possibilidades de ser montado em garagens; produto tão difundido, vindo desde os anos 50 que tornou-se artesanal, talvez migrando para manufatura (interessante).

b) foi a 12 km nessa guerra, o que foi uma novidade - poderia ser uma otimização do dispositivo já disponível - é uma hipótese, mas dentre outras.

c) e foi a 26-30 km, logo em seguida - aí não há "otimização" que explique; trata-se de outro dispositivo.

Corre a boca pequena que 300 quadros do Hamas teriam sido treinados pelo Hezbollah; não é difícil que isso tenha ocorrido, e as infantaria israelense teme os "300" de GAZA. Não há nada mais mortífero para uma infantaria como a de Israel.

Os 3 ou 4 foguetes lançados do sul do Líbano ontem parecem ter sido pela FLP - Frente pela Libertação da Palestina. Foi a única organização que se pronunciou a respeito e não desmentiu - praticamente confessou a autoria. Não quer perder o bonde da história. Parece não ter uma estratégia alicerçada em grandes estratégias. Parece estar isolado. Precisaremos verificar essa condição da FLP no próximo transcorrer.

- Disciplina estratégica

O povo palestino está fazendo seu papel. Morrendo, sendo destroçado e politizando cada lágrima, cada corpo que enterra, cada criança, cada mulher, cada idoso, cada guerreiro - tudo é capitalizado para a sua causa coletiva. Parece que não irão recuar, ou seja, não irão derrubar o Hamas, muito ao contrário. Mas precisamos ir acompanhando esse elemento da correlação de forças. Esse sofrimento politizado nos dá uma lição maravilhosa contra o humanismo piegas das classes médias e do senso comum, essa vulgaridade. Todos dizem "Parem a Chacina", enquanto o povo da Palestina diz: ...só com a vitória! Na verdade o povo da Palestina, e dizemos Palestina e não somente Gaza, sabe muito bem porque está vertendo seu sangue - não creio que uma ilusão teria sobrevivido à essa persistência da sua realidade histórica e cotidiana. Isso ele demonstra a cada cena desta guerra. Israel não sabe o que fazer, mas o povo palestino está demonstrando saber muito bem o que está fazendo. Não está mostrando um aventureirismo, uma explosão de humores... tudo isso aquele povo já fez, hoje não há mais lugar para isso - pelo menos é o que estamos lendo claramente nos fatos desta guerra.

Estou vendo a cada momento uma lição de disciplina.

Não há como deixar de ver uma ligação, um elo! Trata-se sempre de uma hipótese, mas que eu estou, pelo menos agora, sendo instado a explorar. O conflito Israel-Hezbollah, que tivemos condição de acompanhar em detalhe aqui mesmo na ESK, colheu resultados muito poderosos, tanto simbolicamente como militarmente. Revelou um desenho de alianças, um arco de interesses geopolíticos que revelou toda a sua potência. Pela primeira vez a Blitzkrieg israelense foi fragorosamente derrotada numa guerra defensiva. O Hezbollah assumiu a iniciativa, atraiu as forças israelenses para o sul do Líbano e lá as derrotou. Uma guerra assimétrica que mostrou a potência da defesa ativa. Várias lições que a liderança do Hamas e o povo de Gaza parecem ter tirado muito bem.

- A hipótese do Grande Islam

Creio que o interregno da guerra Israel-Hezbollah e a atual Israel-Hamas deve ter sido aproveitado para os acertos internos ao Hamas e ao povo palestino de Gaza para trabalhar essa aliança, formar um plano, preparar tudo e, no momento adequado, implementar a estratégia - que a meu ver ainda está na sua fase de teste! O resultado parece muito promissor. Imagino o salto subjetivo que teria que ser dado pelos envolvidos para unir sunitas fundamentalistas e shiitas fundamentalistas numa estratégia única, em condições de vida ou morte literalmente. Se este passo for dado, ele terá um alcance TRANSCENDENTE! Ou seja: um grande Islam poderia estar emergindo dos resultados dessa aliança "pontual"! Não estão brincando em serviço - o buraco é um pouco mais embaixo.

- A opinião pública internacional

Além da estratégia no plano interno, ela tem Mas as classes médias e o senso comum ocidental, movendo-se segundo seu ser, fazem também sua parte, aliás totalmente a reboque dos fatos, totalmente segundo a "lei dos grandes números". No problems, e que assim seja - trata-se de impactar a "opinião pública" internacional. Cada um responde segundo seu ser social, sua posição na produção, a qualidade de consciência que conseguiu alcançar. Uma estratégia de conflito local tem que contemplar esse aspecto subjetivo-global, já diria Ho Chi Minh!

Israel apresenta as cenas dos massacres para consumo interno. É um dos objetivos, tentar retirar da garganta o espinho que o Hezbollah colocou no último confronto no Líbano.

- As limitações da estratégia israelense

No entanto, Israel tem objetivos militares muito claros:

a) eliminar fisicamente a liderança do Hamas - o Hamas já está preparado para essa eventualidade, aliás quase certa; suas lideranças são prontamente repostas, seu dispositivo de comando não sofre qualquer abalado com o extermínio de seus líderes em função; terrível lição para a continuidade da luta;

b) tentar enfraquecer a liderança do Hamas -
b.1) isso já está comprovadamente descartado, aliás o contrário na Faixa de Gaza;
b.2) Israel pode, ao contrário, provocar uma queda da OLP na Cisjordânia na medida em que os palestinos lá podem, como já estão fazendo, vir às ruas e alastrar o conflito para aquela região, o que significaria a curto prazo a explosão de uma Intifada naquela em Jerusalém, e a médio prazo uma derrocada da OLP pelega, safada e vendida aos USA, a Israel e aos príncipes árabes;

c) tentar de tudo para fechar a linha de suprimento do Hamas também ao sul - via Egito; Hosni Mubarak parece que não irá fazê-lo. Por ele mesmo, não interessa deixar a posição em que está, ou seja, a de "interlocutor" entre as partes. Com isso consegue permanecer numa posição viável dentro do seu próprio território político. O jogo é pesadíssimo dentro do Egito.
A fronteira sul da Palestina, tudo indica, continuará "porosa" no curto prazo, que é o que interessa para o conflito em andamento.

- Hamas e uma estratégia consistente

O Hamas hoje (08Jan09) lançou até agora pouco 22 mísseis sobre Israel. É a ração diária. É o sinal de que o Hamas está obtendo, de algum modo que não é nada transparente, o que deseja. Agora pouco, 19:00hs, o Hamas recusou a proposta de acordo oferecida pela ONU-EGITO-FR! Isto quer dizer que o Hamas ainda não atingiu seus objetivos - sua máxima nesse para esse momento é: a luta pela Palestina se dá dentro da Palestina!

Isto quer dizer que o Hamas ainda está com a iniciativa estratégica.

O grande temor estratégico seria que desta feita ainda o Hamas estivesse internacionalmente isolado. Tudo indica que não. Mas é algo que veremos se confirmar com o decorrer dos acontecimentos.

De fato, tudo está sugerindo uma primeira experiência de "parceria militar"! Creio que o Hamas e os palestinos de Gaza estão fazendo um primeiro teste de disciplina. Sua missão é símbólico-militar, mostrando que Israel não poderá mais interromper, por suas próprias forças, os mísseis, ou seja a auto-determinação dos palestinos de Gaza. Se isso for realmente alcançado, e parece que será (mas temos que ir acompanhando), o povo palestino como um todo (eixo Gaza-Jerusalém) irá se unificar em torno do Hamas. A coisa toda é inteligentíssima, brilhante estratégia (a confirmar se é esta mesmo)!

- Hamas, uma guerra popular

A estrutura de classes da sociedade palestina é complexa.
Há burguesia, há proletariado. Há uma vastíssima pequena-burguesia. Há um vasto semi-proletariado e há campesinato médio e pobre! Uma viagenzinha pelo Google Earth mostra como isso acontece espacialmente.

Aliás, um detalhe técnico: quando se está no Google Earth "flying" pela península do Sinai a resolução é fantástica, vê-se a arrebentação das ondas do Mediterrâneo. Quando ingressamos na Faixa de Gaza ou em Israel, a resolução cai. Interessante!

A indignação não seria nada, apenas um sentimento, se não se fizesse acompanhar por uma estratégia consistente de luta! A indignação sem estratégia seria apenas uma porta para a auto-humilhação. A indignação sem estratégia é o que há de pior no mundo, é a impotência.
Quanto à indignação do povo palestino com sua condição, não temos qualquer dúvida! Quanto à sua estratégia, vemos que tudo está indicando que é inteligentíssima finalmente! Por isso, os palestinos vão muito bem obrigado na sua luta, ou seja, estão lutando muito bem, têm claro que esse momento de guerra contra Israel e as vidas que lhe estão sendo tomadas são apenas um episódio, agora dentro de uma estratégia consistente, uma guerra que terá um resultado só: a derrota do sionismo.

- Conclusão

O problema é a nossa própria indignação com esse e outros fatos... o que ela está nos mostrando quando se transforma em atos. Interessante uma reflexão a respeito.

A indignação não gera automaticamente uma estratégia. Uma estratégia não é uma idéia: é uma EXPRESSÃO, um PRODUTO SOCIAL! Aliás, muito antes de ser um artifício intelectual! A força de uma estratégia de luta é fruto de anos de luta, de preparo, fracassos e de sofrimento coletivo. A estratégia emerge aí nesse processo. Alguns acham que ler Sun Tzu (que, aliás, é curtinho) “resolve”, ilumina! Isso é risível! Uma estratégia "instantânea", "inspirada", coisa de "expertos"! Podemos dizer com segurança a respeito: não há atalhos para guerras populares ou guerras de classe.

Sob esse ponto de vista tudo indica que o pessoal do Hamas, e claro, dos palestinos de Gaza, estão dando NESSE EXATO MOMENTO um salto qualitativo fantástico, e esse episódio parece ser a expressão desse salto. Os analistas militares europeus e norte-americanos já declararam: não há chance de vitória militar para Israel. Agora sabemos o que realmente deve estar em jogo e podemos adendar: não há chance de vitória política, simbólica e estratégica para Israel.
O jogo na Palestina é muito sério, como o do proletariado da América latina também o é.
Interessante.

Notas

[1] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51400.
[2] originalmente in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51402.
[3] in http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/51435

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