terça-feira, 30 de dezembro de 2008

- Conjuntura do Capital, Conjuntura da Classe 27Out06


Sexta-feira, 27Out06, Bolha Imobiliária e PIB dos USA: bolsas globais vão para o vermelho


por Ivan J., 27Out06*


Sumário

1. Formas aparentes e essência da crise
1.1. Formas aparentes
1.2. Economia política do capital, Economia política dos trabalhadores
2. A crise cíclica quinquenal e seus cenários
3. Hard landing e soft landing e a situação da classe proletária no Brasil
4. Classe e conceito de classe: o produto histórico do desenvolvimento das forças produtivas do capital no Brasil
4.1. A centralidade da classe e a revolução proletária como produto histórico
Conclusão


* * *
1. Formas aparentes e essência da crise

1.1. Formas aparentes

Não chegou a ser uma "Sexta-Feira Negra", como as clássicas sextas-feiras de crash nos mercados acionários globais.
Mas após bater seus recordes hístóricos, o Dow Jones hoje recuou - não muito, mas neste caso a quantidade não expressa a qualidade do momento.
Os ufanistas ou "ponderados" da saúde com "leve mal estar" dos mercados diriam: "Oras, um recuo depois do topo é mais do que normal!" Claro, natural!
Mas não com uma deflação nos mercados imobiliários que não se detém e nem desacelera: os preços dos imóveis estão em queda-livre e os 'defaults" das grandes incorporadoras e emprenteiras começam a se precipitar. Isso tem desdobramentos por todo o sistema financeiro.
Mas nesta sexta-feira foi divulgado o resultado do PIB norte-americano para o 3o Trimestre. O mercado esperava uma redução para 2.1%, taxa anualizada. Veio 1,6%! Sabemos que essa é uma primeira prévia e que certamente ocorrerão revisões - mas não sabemos se serão para cima ou para baixo. O retrospecto diz que serão para cima.

No entanto, no quadro atual da discussão, essas duas notícias caíram como uma bomba. A Europa caiu, antes. A Ásia já havia caído.
A questão é que os mercados globais já chegaram à conclusão de que estão "overbought" (super-comprados), ou seja, está todo mundo com suas carteiras abarrotadas de títulos, ações. Como o mercado estava subindo irresistivelmente até agora, não havia porque desfazer-se dos títulos! Será?
Veremos na segunda-feira o comportamento da "boiada"!
Podem tornar a ficar mansa, e voltar a pastar tranquilamente. Ou pode haver um começo de "caminhada". Ou pode haver um "estouro"!
O fato é que a liquidez é imensa, mas todos sabem que não há lastro real para essa montanha de capital-fictício.

Por isso hoje abre-se champagne a cada leve indício de que a economia norte-americana está pousando suavemente. Há uma indústria do "otimismo", as visões "Goldilocks" do conto "Cachinhos dourados e os três ursinhos", que povoam os noticiários de business. Como sabem que vai haver uma acomodação necessária, afirmam que ela será suave, o soft landing.
1.2. Economia política do capital, Economia política dos trabalhadores
Problema: os prognósticos de hard landing se reforçam a cada dia. Há "razões" propriamente keynesianas (ligadas à demanda) para isso. Mas essas depressões na chamada "demanda agregada", provocada pela inconsistência em alguns de seus principais componentes, são apenas a forma fenomênica da verdadeira causação da crise. Trata-se do aumento da composição orgânica do capital combinada com o esgotamento periódico da vida útil do capital fixo - esta é a teoria marxiana dos ciclos econômicos. Os desequilíbrios nos mercados, entre os componentes da demanda agregada, não são suficientes para provocar uma crise realmente séria. No entanto, esses desequilíbrios nos mercados tornam-se realmente sérios quando são manifestação da crise de super-produção de capital. E sabemos que essa super-produção não é em relação à demanda ou aos mercados, mas sim em relação à mais-valia! O capital constante (C) mais o capital variável (V) torna-se cada vez maior em relação à mais-valia (M), ou seja, a taxa de lucro (M/C+V) cai. Mas isso de um modo muito especial, pois é fruto do aumento do capital constante em relação ao capital variável, o que Marx chamou de composição orgânica (C/V).

Essa é a contradição básica do sistema: o desenvolvimento compulsivo das forças produtivas, em virtude do ambiente de concorrência incontornável para os capitais, leva a uma expulsão da força de trabalho da produção.
Aí temos a essência do processo, os mercados apenas o mostram de forma indireta.

2. A crise cíclica quinquenal e seus cenários

Como estamos trazendo a público ([1]) desde 2003 pelo menos, tenho sido um dos únicos a apresentar o cenário de retorno da crise cíclica para a janela de final de 2005 início de 2007. Inicialmente eu achava que seria em 2006. Conversando com amigos que dominam a arte chegamos à conclusão de que poderia ser antecipada um pouco. Depois re-conversando achamos que poderia ser para o primeiro e segundo trimestres de 2007. Mas não poderia passar disso pois aí ela teria sido mitigada.
Marx no Capital fala em "duração aproximada". Num artigo para o NYDT ele dizia que a crise deveria ter o seu retorno estabelecido de forma "exata". Sem maiores aprofundamentos, fico com a expressão de "O Capital".

Fatores poderosos podem mitigar a crise, possibilitando o soft landing, exatamente como o de 1996. Lá, na principal economia do mundo, foram basicamente os seguintes fatores que atuaram:
a) China
b) exportação da crise para as economias emergentes
c) capacidade financeira do Estado
d) mercados de títulos que amealharam liquidez para a reposição do capital fixo.

Isso deu tranquilamente a Clinton seu segundo mandato.
Todos esses fatores estão invertidos hoje, à exceção da China que está relativamente enfraquecido. As taxas de crescimento na China são decrescentes: trata-se da queda tendencial da taxa de lucro numa economia fortemente progressiva!
Temos que acompanhar o que acontecerá nos próximos meses, tentarmos ver os indicadores para o mês de outrubro e novembro da produção na economia norte-americana e na Alemanha e Japão. Isso dará uma noção, descontada a sazonalidade natural, de como entraremos no próximo ano.

Os cenários estão totalmente abertos, mas são apenas dois, e assim eu os avalio hoje ([2]):
a) soft landing (45%) - cenário "bullish",
b) hard landing (55%) - cenário "bearish".

3. Hard landing e soft landing e a situação da classe proletária no Brasil

O impacto sobre a economia brasileira será forte no caso de um soft landing, fortíssimo no caso de um hard landing. Será um colapso. Não acredito, mas é um insight, em colapso na economia brasileira nestá próxima crise cíclica. A capacidade de resistência do capital social aqui sempre foi a mais forte da América Latina. Se nossa economia não cresce exuberantemente a taxas de 6-8%, também não colapsa facilmente. Creio que isso se mantenha. No entanto, em função do quadro atual, creio que o desemprego vá ampliar-se de um patamar já muito alto, em torno de 17% na RMGSP - Região Metropolitana da Grande São Paulo ([3]). A renda dos trabalhadores vem sendo corroída, não de modo drástico, mas será durante a crise. É nesse sentido que não será um colapso, mas será o suficiente para a radicalização das lutas sociais em geral e as do proletariado e do operariado em particular.

Não estou inovando quando estou trazendo essa avaliação. Eu mesmo tenho trazido esse cenário constantemente, mesmo que para um público restrito.
Também tenho trazido a alguns poucos leitores como vejo o impacto sobre os movimentos proletários e operários que é o que interessa precipuamente ao socialismo revolucionário, pois trata-se da classe proletária e do seu núcleo duro o operariado dos setores de ponta da indústria.
Trata-se de um ambiente muito propício para uma inflexão na política interior à classe. A militância mais combativa, revolucionária, do campo do socialismo revolucionário tenderá a ter mais campo para realizá-la, mas no interior da classe, não fora.

4. Classe e conceito de classe: o produto histórico do desenvolvimento das forças produtivas do capital no Brasil

Atenção: doravante é bom precisar a todo momento o que se compreende por classe. Não são os "trabalhadores", dito sem maiores qualificações sociológicas e econômicas. Não se trata do "povo" ou das "massas", dito sem as devidas qualificações sociológicas e econômicas. Trata-se das massas proletárias, trabalhadores que têm apenas sua força de trabalho para vender, sem reservas, e trata-se também do seu núcleo duro operário das indústrias de ponta. Esta é a única força social capaz de liderar os outros setores sociais para uma revolução social que abolirá a propriedade privada e acabará definitivamente com as classes sociais.

Concretamente, a história econômica deste século XX no Brasil instalou essa realidade e talvez estejamos para iniciar uma primeira experiência, inédita, desse protagonismo revolucionário da classe. O desenvolvimento da forças produtivas que ocorreram após o final dos anos 70 e início dos 80 instalaram as condições para que não se repita a absorção do operariado dos setores de ponta, consequentemente de toda a classe proletária, pela social-democracia como ocorreu naquela experiência - e foi tão rápido. Essa absorção foi o marco-zero do primeiro ciclo histórico da social-democracia no Brasil. Estamos hoje numa outra altura social e política para uma experiência inédita de protagonismo consistente da classe - o potencial está dado hoje pelas condições objetivas internas e também do mercado mundial.

4.1. A centralidade da classe e a revolução proletária como produto histórico

Doravante cabe, smj, explicitar, mesmo ao custo da repetição à exaustão, o conceito de classe proletária, de operariado, de partido de classe, de partido operário. Nem para mim essa dialética toda intra-classe está muito clara ainda - e é para firmar tudo isso, esclarecer inclusive, que vale o esforço da repetição. O sentido do esforço, porém, está totalmente dado: é no sentido exclusivo da centralidade da classe!
O que está em jogo então? Não é pouca coisa:
a) o potencial já efetivo de um protagonismo decisivo do proletariado e no seu interior do núcleo duro operário; a partir daí a viabilidade e inevitabilidade histórica de uma revolução proletária do Brasil;
b) a identidade própria da classe proletária, clássica, como sendo a única revolucionária até o fim (Lênin);
c) a auto-organização autônoma do proletariado em torno do operariado dos setores industriais de ponta, com base nas teses clássicas do socialismo revolucionário (Marx-Engels).

Conclusão

Todas essas dimensões já estão inscritas na objetividade lato sensu do solo social e econômico no Brasil. Se o movimento real atual, a objetividade stricto sensu, irá fazer com que os atuais acontecimentos correntes sejam efetivamente o início de um movimento operário e proletário à altura das tradições históricas da classe, isso é o que teremos que aferir no acompanhamento exaustivo deste devir próximo: os cenários estão abertos!


* * *
Notas

*Mantivemos a data original.
[1] http://br.groups.yahoo.com/group/eskuerra/message/37793
[2] Na medida em que atribuiremos probabilidades, estamos inovando em relação às análises anteriores.
[3] DIEESE.

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