terça-feira, 30 de dezembro de 2008

- Crise e política operária 21Dez07




por Ivan J., 21Dez07
Agora estou me dedicando a um balanço do ano que passou, cuidando de refletir a respeito da dialética da crise econômica do capital e da auto-politização e auto-organização da classe proletária.

No último fim de semana foram 6 horas de análise econômica no sábado e 6 horas de análise econômica e geopolítica no domingo. Isso para um grupo excelente de militantes, gente também batalhadora da teoria marxiana (FNM – Fórum Nacional de Monitores do 13 de Maio).

Na análise econômica da atual conjuntura procurei deixar claro o fato de já estarmos em crise, nos USA pelo menos, desde o final de 2006 e início de 2007. Gráficos e etc dão os dados em que me baseio.
No entanto, desde o último fim de semana até hoje, um verdadeiro dilúvio de águas conjunturais passaram por debaixo da ponte.
Os noticiários busines já vêm com a devida visão catastrófica que os dados insistiam em esconder da realidade.

Hoje o mundo dos derivativos equivale a US$ 500 trilhões de dólares; mais de 10 vezes o PIB mundial. US$ 800 bilhões de dólares de curtíssimo prazo de injeção no sistema bancário, que é apenas um segmento do sistema financeiro como um todo, é, com o perdão da palavra, uma ínfima providência diante da catástrofe anunciada.

O interessante é que uma verbalização bem mais comedida, mas exatamente com o mesmo quadro, está circulando pelos analistas de mercado hoje nos grandes jornais e nos grandes noticiários radiofônicos e televisivos. Como tudo vem dos mercados financeiros a ênfase é claramente na NECESSIDADE URGENTE de um AUMENTO DRÁSTICO da TAXA DE JUROS REFERENCIAIS no CENTRO DO SISTEMA. Porque? A inflação já está totalmente fora de controle nos USA.
A inflação oficial está em torno de 4-5% enquanto que a real estaria para alguns entre 7-10% e para outros já está chegando a 15%. Briga de informações? Sim! Porém o mercado migrou repentinamente e definitivamente para a segunda informação, descartando a informação oficial e ficando com estas outras informações.

A mudança no quadro geral a partir da adoção de um ou outro número é brutal. Para uma economia que em termos nominais cresce à taxa de 5% anualizados, a apuração do crescimento real depende da inflação que se considera. Já compreenderam o tamanho da encrenca?
A questão é que uma queda da atividade norte-americana parecia implausível a alguns meses ou semanas atrás. Porém hoje, parece que todo o mercado resolveu ver o que olhava e não enxergava: O REI ESTÁ TOTALMENTE NÚ! A economia norte-americana já está em recessão há algum tempo, o desemprego já vem aumentando há algum tempo, as vendas de varejo e atacado já vêm caindo há algum tempo, transportes idem. A inadimplência vem subindo em todos os segmentos de mercado financiado, a lucratividade vem caindo de modo estonteante em todos os segmentos determinantes da economia.

O importante para o mundo, além da própria débacle da economia norte-americana é que:
a) o pleno e talvez multiplicado CONTÁGIO GLOBAL está GARANTIDÍSSIMO; deste contágio o Brazil não escapa de modo algum;
b) o que poderia ficar restrito a uma recessão cíclica corre o grande risco de tornar-se uma grande depressão; já falamos a respeito da distinção em outras msgs.

Não se trata, evidentemente, de ver quem "catástrofe mais"!
Na hora em que o demônio aparece realmente o susto é geral - inclusive para os marxistas, inclusive para as esquerdas e extrema esquerdas!

Todos terão que rever repentinamente e radicalmente a si mesmos, sua existência, suas apostas, seus compromissos.

De nossa parte, estivemos aqui na ESKUERRA desde o início da nossa participação fazendo um exercício de previsão. Primeiro aventamos a hipótese de uma janela para o mergulho na CRISE CÍCLICA. Essa janela numa primeira versão iria se abrir em 2006 e fechar-se no início de 2007. Depois, numa segunda versão, poderia abrir-se antes, no final de 2005. Por fim vemos que a crise, pelo menos no centro do sistema começa a desabar no final de 2006 (segundo meus dados) ou abril de 2007 (segundo o LEAP).
Que eu saiba, no Brasil apenas o companheiro José Martins do "Crítica Semanal" avançou cenários para a crise cíclica.
Aí está a crise cíclica, crise industrial na conceituação de Marx.
Ao que tudo indica, ela vem muitíssimamente mais grave do que antes aventado. A queima de tanto capital não será coisa suave, mesmo porque a concorrência entre os imperialismos americano, europeu e asiático, assim como com os imperialismos emergentes, dentre estes o brasileiro, adiciona terríveis contornos aos cenários de médio e longo prazos.

O mundo do capital se prepara a uma velocidade estonteante para apresentar à Humanidade a sua saída para a crise: a Guerra Mundial, interimperialista. Esse cenário não é nada estranho para quem permanece nos marcos do marxismo revolucionário do próprio Marx, de Engels, Lênin, Rosa - para estes o militarismo capitalista é orgânico à crise de esgotamento do sistema. Por isso para estes autores estava clara a alternativa "Guerra ou Revolução", e atenção que a Revolução é também, ela própria, uma guerra!

O ritmo da sucessão dos fatos irá se acelerar dramaticamente, mais dramaticamente por dizer respeito à qualidade destes fatos. A politização da classe trabalhadora mundial irá acelerar-se doravante. 2008 será um ano-chave para observarmos a instalação dessas tendências e, portanto, para fazermos novos prognósticos.

Qual a função da previsão, dos prognósticos? Dar elementos sem os quais não há possibilidade de uma planejamento da ação.

Hoje está bem mais fácil dizer que o momento da ação decisiva, da prática decisiva, da militância decisiva está se aproximando. Essa práxis, a revolucionária, tem um locus social decisivo, a meu ver: o movimento operário dos setores de ponta da economia.

Não existe propriamente certezas quando tratamos das previsões e prognósticos, porém, juntamente com a teoria consagrada do socialismo revolucionário (Marx, Engels, Lênin, Rosa) é o que temos para nos orientar. No caso, as previsões e prognósticos dizem respeito à condição do proletariado na América Latina. Nela, o proletariado das suas três grandes economias (Argentina, Brasil, México) forma o eixo da geopolítica dos trabalhadores. Nesse eixo, o operariado do macro-eixo Rio-São Paulo é determinante para o conjunto das lutas proletárias e sociais em geral no âmbito da América Latina. A radicalização de todos os movimentos sociais depende de forma determinante e decisiva da emergência política autônoma do operariado do macro-eixo Rio-São Paulo.

O salto quântico da politização da classe no macro-eixo Rio-São Paulo dar-se-á num único fórum: o da política operária. A luta dos que defendem a centralidade da classe proletária, e nela a centralidade do seu núcleo duro formado pelo operariado industrial moderno, será no sentido centrípedo, no sentido da constituição da classe enquanto classe para si, classe auto-organizada em torno de sua indentidade própria, sua auto-identidade como única classe revolucionária "até o fim", ou seja, o protagonista 'par excellence' do processo revolucionário, efetivamente anti-capitalista.

A natureza da conjuntura, com todas as incertezas que uma análise de conjuntura inerentemente contém, aponta para uma inflexão decisiva no processo de auto-politização da classe, o que no meio militante tem o nome de "preparação". Mas essa "preparação" não é indeterminada, não é difusa por todo o tecido social "popular". Há um endereço, um 'locus' específico: o movimento operário. A preparação nos demais núcleos operários do Brasil é vital para, primeiro, impactar e potenciar a politização operária onde ela vai ser mais dura, pois não só nós, mas principalmente o capital, com seus agentes são perfeitamente sabedores da situação. Portanto, a politização e preparação no macro-eixo Rio-São Paulo só poderá ter sucesso se for obra do movimento operário como um todo. Quem transita e milita no movimento operário sabe do que estamos falando. O objetivo geográfico e demográfico desta preparação da classe está perfeitamente claro: penetrar no núcleo determinante do operariado do eixo Rio-São Paulo. Portanto, todas as trincheiras exteriores ao macro-eixo Rio-São Paulo, que porventura venham a ser conquistadas pela militância mais combativa devem ser episódios de um drama mais amplo cujo objetivo está dado.

Aos poucos vão ficando mais claros os caminhos, a topografia, os veículos, a velocidade e os marcos geográficos do processo como um todo da luta pela ascensão da classe proletária à condição de classe para si, organizada em seu partido de classe[1]. A luta vai se determinando, especificando, tornando-se mais e mais carne, homens.

Importante é que nessa luta, bem antes da classe fazer seu último movimento para constituir-se em classe para si, ela se auto-organiza espontaneamente. Ela se organiza primeiro para a luta econômica em seu lugar de trabalho. Ela se organiza para a auto-organização e resistência comunitária em seu local de moradia. Na Comuna de Paris de 1871 e na Revolução Russa de 1917 essa foi a dialética - retratada por Marx, Engels e, fartamente, por Lênin.

No entanto, só o partido de classe, organizado inicialmente a partir do núcleo duro da classe operária, poderá fundir essa miríade de núcleos proletários auto-organizados num movimento único no momento decisivo da polarização Burguesia-Proletariado Revolucionário.

Essa polarização Burguesia-Proletariado ocorre de modo dramático e terminal no momento do embate final de classes, embate pelo poder do Estado, com a Burguesia procurando manter o Estado capitalista e o proletariado procurando destruí-lo para instalar o seu Estado proletário.

Porém, um momento igualmente decisivo para que essa polarização terminal ocorra com possibilidade de vitória proletária ocorre quando da busca da auto-identificação pela classe proletária. Esse momento de busca pela auto-identificação da classe como único ser revolucionário até o fim pode estar chegando, pelo menos está para iniciar-se. Nesse momento de auto-identificação há um encontro das teses clássicas do socialismo revolucionário de Marx e Engels, o que chamamos de teoria ou programa revolucionários, com o proletariado.

No entanto, esse também é um momento de luta infernal. Nessa luta constituem-se poderosas forças centrífugas com a burguesia procurando mostrar que o proletariado enquanto classe para si não mais existe, não mais é possível, e a pequena-burguesia procurando mostrar que o proletariado ao constituir-se em classe para si, só poderá fazê-lo enquanto um elemento a mais junto às forças "anti-capitalistas" e "socialistas" dos movimentos sociais. A burguesia luta por anular totalmente o proletariado como ser político. A pequena burguesia luta por cooptá-lo no "conjunto" dos demais movimentos sociais.

Ao mesmo tempo nessa luta constituem-se forças centrípedas, que junto ao movimento operário, no âmbito da política operária, irão defender o protagonismo revolucionário exclusivo da classe, que tornar-se-á classe para si na acepção integral do termo, na medida em que constituir-se em torno do partido de classe que se forma a partir do núcleo duro da classe, o operariado dos setores de ponta da economia.
Estou tendendo a avaliar o próximo ano possibilitando um início de inflexão na política operária no macro-eixo Rio-São Paulo.

Notas


[1] O partido operário na concepção de Marx e Engels – nota de 30Dez08

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