terça-feira, 30 de dezembro de 2008

- De quem é o Brazil? 28Jan08

Geopolítica e geoeconomia


por Ivan J., 28Jan08


Esta pergunta tem sentido bem preciso para quem vem acompanhando as mensagens teóricas e o desenvolvimento do referencial de análise geopolítica com base na geopolítica do game (Mackinder, Spykman, Brzezinski)[1].

Sempre que há uma confirmação ou a não-confirmação de uma previsão feita, um balanço teórico e prático é necessário. É o caso.

Há algum tempo tenho desenvolvido um modelo para análise geoeconômica e geopolítica. Trata-se do modelo do "GAME". É um modelo interdisciplinar com base na economia política de Karl Marx e na geopolítica da área pivô. Muitos de vocês já estiveram comigo em vários passos do desenvolvimento desse modelo cujas principais previsões foram feitas já 1998/99 e posteriormente atualizadas (cf. mensagens anteriores).

No que toca à geopolítica do game, vimos no decorrer dos últimos 10 anos a formação de duas poderosas coalizões: USA-GBR-AUS de um lado, e FR-GER-RUS-CHIN (Arco Eurasiano) de outro. Vários foram os momentos cruciais do desenvolvimento do game nesse período. A Guerra do Kosovo, Invasão do Afganistão, a Guerra do Iraque, a Guerra Israel-Hesbollah, os Mísseis da Polônia-República Checa, a Questão do Irã.

Ao mesmo tempo vários foram os solavancos que cada uma das coalizões enfrentou. Os atentados na Espanha e a consequente eleição de Zapatero fez com que este forte aliado dos USA-GBR passasse prontamente para a esfera do Arco Eurasiano. Ocorreu o mesmo com a Itália, aliás instável Itália. Já a eleição de Angela Merkel não foi suficiente para retirar a Alemanha da esfera do Arco Eurasiano. A eleição de Sarkozy (um Iluminatti quase confesso) já provoca uma instabilidade enorme no Arco Eurasiano, mas numa situação em que a política de governo choca-se frontalmente com a política de estado e com o ambiente popular visceralmente anti-americano na França, tratando-se de uma situação em definição; o meu prognóstico é que a política externa do governo Sarkozy não conseguirá alterar significativamente a política externa estratégica do Estado francês.

O que sempre ficou mais em aberto, esperando uma definição mais precisa e explícita, foi a questão da inserção da América Latina, mais especificamente, a América do Sul, neste estágio mais recente da evolução do game. Como cada estado nacional da região se alinharia em torno das grandes coalizões globais?

Ficavam sempre as perguntas, algumas já respondidas, outras não:
a) de quem é o Chile? USA;
b) de quem é a Colômbia? USA;
c) de quem é o Perú? ainda indeterminado, mas a tendência já está bem manifesta;
d) de quem é o Equador? Arco Eurasiano;
e) de quem é a Venezuela e a Bolívia? Arco Eurasiano;
f) de quem é o Paraguai e o Uruguai? Em disputa;
g) de quem é a Argentina? Arco Eurasiano;
h) finalmente, de quem é o Brasil?
Há algum tempo os indícios vinham se somando para prever a adesão explícita do Brasil ao Arco Eurasiano. Mas somente agora essa questão vai alcançando sua resposta definitiva. No início do primeiro governo Lula uma licitação para o rearmamento das 3 forças já pronta foi cancelada, em prol do "Fome Zero"; ela apontava claramente para a alternativa russa, ou seja, para o Arco Eurasiano; tudo permaneceu em suspenso, no aguardo do que aconteceria na economia. Mas agora, inclusive contando com a presença de Sarkozy no poder, um pró-americano, o Brasil parece estar fazendo um movimento decisivo (a confirmar); a opção está clara com essa viagem do Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, mais Mangabeira Unger, para a França e para a Rússia; como diz o ministro, não se trata de compra de armas mas de uma "aliança estratégica". Por incrível que pareça, a presença de Sarkozy, pelo seu pró-americanismo, beneficia o movimento brasileiro, pois sendo ele um pró-americano, dá um pequeno guarda-chuva tático à opção estratégica brasileira, que será definitiva e anti-americana. Lembramos que sempre se trata de uma política no âmbito das contradições inter-imperialistas atuais, nada mais que isso - se isso já não fosse o bastante. O momento é favorável, com o ocaso do governo Bush, com a crise econômica nos USA, com a presença de um pró-americano no governo francês - quase nada pode ser dito contra o movimento estratégico do Brasil. Quase nada pode ser dito, mas será dito... veremos sucederem-se os pronunciamentos a partir do NYT do WP e etc.

Agora, como prevíramos, o Brasil finalmente parece responder a questão "a quem pertence": ao Arco Eurasiano.
Com o Brasil vai quase toda a América Latina à exceção do Chile e da Colômbia, sendo necessários vários movimentos para uma definição mais clara quanto ao Uruguai, Paraguai e Perú. A tendência a médio e longo prazo desses 3 países é seguir a liderança geoeconômica e geopolítica brasileira na área no âmbito do MERCO SUL II[2].

A eficácia do modelo de análise geopolítica está, então, comprovada. A previsão dos movimentos dos estados nacionais da área no âmbito da GEOPOLÍTICA DO CAPITAL tem com esse modelo um poderoso instrumento.
Dialeticamente, a GEOPOLÍTICA DOS TRABALHADORES para a área tem agora uma referência (dialética) bem ancorada, e, doravante, tem a possibilidade finalmente de começar a ser traçada.

Ao mesmo tempo, e de um modo mais estratégico, a opção brasileira é um índice importantíssimo do amadurecimento do próprio game global, o quão ele se aproxima e tão velozmente de seu coroamento, que a partir da geopolítica do capital é absolutamente inelutável: a Guerra Mundial. Vemos especificarem-se as forças que se polarizarão no âmbito da geopolítica do capital, em mais esse trágico episódio do game. Lembramos que o game não é nada mais nada menos que o modo como se disputa e se estabelece a hegemonia imperialista global. Entraremos rapidamente, é o que tudo indica, em mais uma fase de duelo global entre as superpotências. Não é processo que demore mais de 2 décadas para concluir seus desígnios.

Falta ainda uma peça fundamental para completar o quadro: o Japão. Até agora a política externa japonesa está indeterminada. Não resta muito tempo para que este pilar do imperialismo mundial assuma explicitamente seu destino nesse jogo: a) aliar-se a uma das coalizões; b) estabelecer ele mesmo uma coalizão. Veremos em breve essa decisão emergir - e ela poderá ser o anúncio de que o processo de preparação para o grande duelo estará entrando na sua fase final de preparação[3].

A festa de desorientação que as esquerdas latino-americanas convencionais farão com essa movimentação internacional dos estados nacionais da área será digna de ver. As esquerdas tenderão a cooptar-se nas políticas internacionais dos estados nacionais pró-Arco Eurasiano, por ser, em suma, anti-americana; este um critério "suficiente" para o "seguidismo" (Lênin) característico destas esquerdas.

Temos então que mais uma peça importantíssima se encaixa, e é uma peça determinante na conformação do game nos nossos tempos - a tragédia global do capital se anuncia. A alternativa Guerra ou Revolução com a qual a Humanidade se defrontará está se desenhando rapidamente no pólo do capital. O outro pólo, o revolucionário, desenvolve-se dialeticamente.

Com efeito, há alguns meses outra peça importantíssima na análise e na previsão da luta de classes se encaixou, num outro plano, que foi o retorno da crise cíclica global. Ela desencadeou-se a partir da economia norte-americana, desde final de 2006 e início de 2007. A produção industrial daquele país começou a desmoronar, provocando desemprego crescente nos setores fundamentais da economia (transporte, indústria, construção civil, distribuição) o que levou à inadimplência em vários mercados (a conhecida crise dos subprime). A partir do final do primeiro semestre de 2007 deu-se início às turbulências nos mercados financeiros globais. Agora a crise se aprofunda no centro do sistema (América do Norte, Europa Ocidental, Japão) e ameaça frontalmente as frágeis economias periféricas industrializadas (BRIC, Leste-europeu, tigres asiáticos, América Latina). Nada escapará.

Uma questão importante quanto à previsão da crise econômica, seu desenrolar, e sua relação com a luta de classes. Se a crise global se caracteriza pela sua abrangência, essencialmente quando envolve as economias centrais, ela própria tem uma história e um modo de acontecer específicos, característicos de cada edição.
Não se pode de modo algum desdobrar da crise econômica uma manifestação no plano da luta de classes. Esse desdobramento nunca foi mecânico e envolve vários elementos que são testados no decorrer da própria crise.
Se a crise é uma condição sine qua non para a eclosão de movimentos sociais radicalizados, ou seja, sérios, a crise não é de modo algum o único elemento suficiente para explicá-los ou deflagrá-los.

Desse modo, é necessário verificar com grande atenção, a partir de uma observação agora a partir do interior dos movimentos sociais, em especial os do proletariado e do seu núcleo duro operário, para vermos em que medida estes movimentos que eclodirão com a crise tendem a ser efêmeros, contingentes, ou comportam desenvolvimento, acúmulo de quantidade e qualidade. Aí sim a crise é fator fundamental, mas não o único, na qualificação desses movimentos.
Por outro lado, a crise, na medida em que é duradoura, profunda, abrangente, poderá ir empurrando o proletariado, e em particular o operariado, para despertar de seu longo sono.

Quanto à natureza dessa crise que estamos já vivendo há algum tempo, ela é seríssima.
Os cenários prováveis deixaram de ser "soft": ou trata-se de uma grave recessão, com duração de 4 a 6 trimestres (isso não é pouco em termos do retrospecto recente das crises cíclicas), ou é mais séria ainda, com duração de 8 a 12 trimestres (aí a referência é o "double-dip" de 1978-82), ou ainda pode ser bem mais séria, com duração de 3 a 4 anos, ou até mais, transformando-se em "depressão".

Ao que tudo indica, e até independentemente do impacto específico que essa crise cause na luta de classes no Brasil, dado o quadro geral das crises cíclicas nesses últimos 20 anos que tendem a tornar-se cada vez mais graves, coloca-se já como imperativo o início de um processo de preparação interior da classe para sua politização revolucionária.

A politização revolucionária da classe implica no estabelecimento e desenvolvimento NO SEU INTERIOR e A PARTIR DELA MESMA de pontos de referência revolucionários. Trata-se de uma atuação, militância que tem uma amplitude estratégica e toda a sua tática é voltada inicialmente para dentro da classe - trata-se da auto-percepção do que seja a classe, do seu destino, dos seus inimigos internos e externos, da sua auto-organização.

É a correlação de forças no interior da classe, nesse exato momento da história mundial e brasileira, que vai determinar as possibilidades, condições e limites em que estes estabelecimentos de referência vão acontecer. No caso concreto do Brasil, no macro-eixo Rio-São Paulo, as condições presentes são extremamente adversas e limitadas, mas não de todo ausentes.

Núcleos tradicionais de militância radical na política operária sobreviveram ao longo desses últimos quase 30 anos e ganharam alguma força nesses últimos 2 anos. São eles o ponto de partida para essa nova fase da política operária.

Importante: o impacto da crise atual pode ou não acelerar e potenciar esse processo de preparação da classe; mas, qualquer que seja o ritmo que tal processo venha a assumir, pela natureza que essa crise está revelando no plano global, ela é o marco para o início de uma nova fase para o movimento operário no Brasil: a da sua preparação para cumprir seu destino revolucionário como núcleo duro, dirigente, da única classe revolucionária até o fim.

A dialética da luta de classes nas sociedades industriais modernas (na qual hoje o Brasil se inclui) estabelece que somente o movimento operário será capaz de aglutinar todos os movimentos sociais proletários, e de outros segmentos da sociedade, numa estratégia revolucionária com chance de êxito. Os movimentos por local de moradia, ou comunitários, populares, só encontrarão sua transcendência se estiverem nucleados numa estratégia estabelecida a partir da liderança do movimento operário organizado em partido político.

A dialética de desenvolvimento desse movimento mais amplo é complexa e longa - sendo que o tempo é o tempo histórico, o tempo da crise, o tempo da luta de classes.

A organização do proletariado, sua união revolucionária, tem uma especificação política e, a um só tempo, uma especificação estratégico-econômica. A especificação política diz respeito ao acúmulo quantitativo e qualitativo para conformar a massa proletária organizada como agente político, como agente de luta política contra o capital. A especificação estratégico-econômica diz respeito à assim chamada "economia da transição" - diz respeito a todas as tarefas que incumbirão ao proletariado no período de transição, período esse que vai desde o momento da existência concreta e consciente do "duplo poder" (o burguês e o proletário, lado a lado) desdobrando-se para o momento em que o proletariado conquista o poder e tem, a partir daí, a incumbência de manter a reprodução material da sociedade toda (o que ele faz a partir de seu método e estado próprios, revolucionários).

Em linhas gerais, o crescimento militante quantitativo e qualitativo do operariado em todo esse processo passa por duas fases:
a) a das lutas predominantemente econômicas
b) a das lutas predominantemente políticas.


Os instrumentos para uma fase e para outra são qualitativamente distintos, sendo que os da primeira fase (sindicatos, federações sindicais, confederações, centrais e etc...) constituem-se base para originar as organizações para a segunda fase da luta, a luta política da classe, que inclui a luta contra o poder do estado, a conquista do poder do estado, a estruturação de um estado próprio da classe proletária. O instrumento par excellence da segunda fase é o partido de classe, o partido operário. No entanto, as organizações da primeira fase da luta proletária, as organizações econômicas, permanecem durante toda a segunda fase.

Quanto ao seu desenvolvimento, estas fases são mais qualitativas do que sucessivas no tempo. Tudo depende do grau de desenvolvimento do processo de auto-politização da classe para que da primeira fase desdobre-se a segunda. Tudo pode acontecer num longo processo de amadurecimento como pode acontecer muito rapidamente. São as circunstâncias da crise e da luta que dirão como a partir da primeira fase a luta se desdobrará na segunda. Os saltos de qualidade necessários para o desdobramento de uma fase na outra são imensos, também os desafios passam a ser outros.

Sem um fio condutor que permita à classe mover-se em todo esse processo, o processo em si cobrará um custo humano enorme, isso se não redundar, como é o mais provável, em derrota trágica da classe. Prever as fases necessárias pelas quais o movimento passará no seu desenvolvimento e prever as condições nas quais o movimento enfrentará seus desafios a cada fase e as respostas que terá que dar para não ser derrotado, é fator necessário para a vitória, para que a classe cumpra seu destino.

Há um momento em que todo o esforço de conscientização, de preparo, se dá em pequenos círculos que persistem nos poros da contra-revolução; ha um momento em que todo o esforço de conscientização e de preparo ganha uma abrangência bem maior, elástica, pronto para abranger desde centenas de militantes até milhares.

***

Seguem: 2 Rápidas matérias a respeito

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u367498.shtml

28/01/2008 - 10h26
Jobim discute compra de submarino francês por US$ 600 milhões
da Folha Online
O Brasil discute com a França a compra de submarino diesel-elétrico da classe Scorpène, por US$ 600 milhões, com pagamento em 20 anos e taxas européias de 2,4% ao ano, informa nesta segunda-feira reportagem de Eliane Cantanhêde, enviada especial da Folha a Paris (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).
Segundo a reportagem, a compra está condicionada a um pacote mais amplo que inclui a transferência de tecnologia de submarinos nucleares franceses para a Marinha brasileira.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, que está em Paris, ressaltou que "não se trata de uma viagem de compras", mas de discussão de uma "aliança estratégica" entre os dois países. A base das conversas, segundo ele, seria a garantia de transferência de tecnologia --algo que os Estados Unidos não aceitam, mas a França mantém com países como a Índia e a China.

* * *

http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2008/01/28/ult1808u110934.jhtm

28/01/2008 - 20h02
Jobim discutirá projetos de cooperação estratégica com Sarkozy
Paris, 28 jan (EFE).- A possível construção de submarinos e helicópteros faz parte dos projetos de cooperação estratégica tratados pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, em visita à França.
Jobim, que se reunirá amanhã no Palácio do Eliseu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse hoje, em um encontro com a imprensa, que não haverá anúncios ao final da reunião.
Acrescentou que eventuais declarações seriam feitas por Sarkozy e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro entre ambos, que deve acontecer no dia 12, na Guiana Francesa.
Jobim explicou que se trata de "traçar um processo de aliança estratégica com a França" sobre, entre outros pontos, a construção de submarinos de defesa, de propulsão nuclear.
O ministro informou que, se há um projeto estratégico com a França para a produção de um submarino nuclear, e o Brasil optar por um submarino de propulsão convencional, o lógico é que procure este país.
Seria "com produção no Brasil e com transferência de tecnologia", afirmou o ministro, que não informou o eventual número de submarinos nem o valor do investimento.
O projeto passaria pela criação de sociedades mistas, nas quais a parte brasileira teria a maioria do capital e controle.
Esses projetos de cooperação estratégica poderiam incluir cerca de 50 helicópteros Cougar, do fabricante europeu Eurocopter, com sede na França.
Para falar do possível financiamento do projeto de helicópteros entre Eurocopter e Helibrás, Jobim reuniu-se hoje com diretores do banco Société Générale, em Paris.
Os helicópteros seriam destinados às Forças Armadas brasileiras, segundo o ministro, que novamente não mencionou valores.
Jobim planejava hoje um jantar de trabalho com diretores do grupo europeu de defesa e aeronáutica EADS, que tem a Eurocopter como filial.A agenda do ministro para amanhã inclui também um encontro com seu homólogo francês, Hervé Morin, para discutir um acordo de cooperação operacional entre as Forças Armadas dos dois países.
Notas

[1] Versão com ligeiras atualizações e revisões ortográficas – manteremos a data original.
[2] Hoje UNASUL.
[3] Temos elementos importantes que mostram que o Japão já começa a vincular-se ao Arco Eurasiano – veremos nas postagens futuras.

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